Título: PARA PETROBRAS, PREÇO ESTÁ ALTO
Autor: Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 08/03/2006, Economia, p. 29

Navios feitos no país chegam a custar o dobro do valor internacional

Enquanto a PDVSA vem comprar no Brasil, a Transpetro, subsidiária da Petrobras, ameaça suspender a licitação para a encomenda de 26 navios petroleiros de grande porte caso os estaleiros instalados no país apresentem preços muito elevados em relação às cotações internacionais. O presidente da Transpetro, Sérgio Machado, explicou ao GLOBO que a estatal poderá pedir aos participantes uma revisão nos preços. A Transpetro admite pagar pelos primeiros navios um valor um pouco acima do cobrado no exterior - assim como aceita prazos um pouco maiores - para permitir que a indústria nacional se capacite para competir no mercado internacional:

- Mas isso tem um limite. Não vamos pagar qualquer preço - afirmou Machado.

Na última sessão do processo de licitação promovida pela Transpetro, mês passado, foi aberto o envelope de preço do estaleiro Mauá-Jurong, único concorrente à construção de quatro navios de produtos derivados. O primeiro navio foi cotado a US$83 milhões, quase o dobro dos preços internacionais. Como a licitação está em pleno andamento, Machado prefere não falar de preços, mas admite que os valores apresentados pelo estaleiro estão elevados. Ele chegou a ameaçar pedir ao governo que reduzisse as taxas de importação de aço, mas ontem disse que já negocia com as siderúrgicas brasileiras a redução do custo do insumo no país:

- Devemos iniciar as negociações com o estaleiro (Mauá-Jurong) ainda na próxima sexta-feira. Mas temos um limite. Não vamos pagar qualquer preço.

A abertura de preços das propostas para outros tipos de navios será na próxima semana.

A Transpetro fez um estudo detalhado sobre os preços dos navios nos principais estaleiros do mundo e no Brasil. Segundo Machado, o estudo tem os custos de cada item para ser feito no Brasil. O presidente do Sindicato Nacional da Indústria Naval (Sinaval), Ariovaldo Rocha, disse que um navio igual ao que o Mauá-Jurong pretende construir no Brasil está cotado no exterior a US$51,6 milhões:

- Não quero discutir se está caro. Mas esse é o preço de um navio do mesmo tipo lá fora. A Transpetro e o estaleiro devem chegar a um preço ideal no país.

O presidente da Transpetro repete que o objetivo da política de encomendas de grande quantidade de navios no Brasil é permitir ganhos de escala e capacitar a indústria nacional. O mercado internacional, segundo Machado, gerou encomendas de US$72,8 bilhões no ano passado. Mas o Brasil está com poucas encomendas, e todas relativas a navios de pequeno porte. O Brasil não constrói embarcações de grande porte desde 1996.

O professor de engenharia oceânica Floriano Pires, da Coppe/UFRJ, afirmou que é importante o apoio à capacitação da indústria naval brasileira. Mas ele faz um alerta: é preciso exigir metas para que a indústria se torne realmente competitiva, sem gerar ineficiência. (Ramona Ordoñez)