Título: INTEGRAÇÃO PUXADA A NAVIO
Autor: Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 08/03/2006, Economia, p. 29

Depois de patrocinar carnaval, estatal venezuelana encomenda 36 petroleiros no Brasil

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, está mesmo decidido a investir pesadamente no Brasil. Logo depois de patrocinar a escola de samba Unidos de Vila Isabel, campeã do carnaval carioca com o enredo "Soy loco por ti, América", a estatal Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA) vai encomendar 36 navios petroleiros de grande porte junto à estaleiros brasileiros. O anúncio foi feito ontem pelo presidente do Sindicato Nacional da Indústria Naval (Sinaval), Ariovaldo Rocha. Segundo ele, essa encomenda representará investimentos de cerca de US$3 bilhões (R$6,5 bilhões) no país.

Juntando a encomenda da Venezuela e a licitação da Transpetro (subsidiária da Petrobras) para comprar 26 navios petroleiros, o volume de investimentos no setor naval ficarão entre US$4,5 bilhões e US$5 bilhões este ano, estimou o executivo.

O Sinaval espera que sejam gerados dez mil empregos diretos com as duas encomendas, que também ajudarão a manter os 40 mil postos de trabalho atuais no setor. Há a estimativa de que as obras gerem até 16 mil empregos diretos no Brasil, o que daria um empurrão nas discussões sobre a revitalização do setor naval do país.

O presidente do Sinaval disse que a encomenda da PDVSA foi fruto de negociação entre os governos dos dois países, que resultou em uma concorrência internacional feita pela estatal venezuelana. Mas o governo brasileiro disse que não interferiu na encomenda da PDVSA.

Segundo integrantes do Itamaraty e do Ministério de Minas e Energia, trata-se de uma operação feita diretamente entre a petrolífera venezuelana e os empresários do setor naval, embora tudo o que ocorra em termos de integração faça parte de uma aliança estratégica entre Brasil e Venezuela. As informações que chegaram ao governo sobre a operação mostram que a PDVSA encarregou o estaleiro Diques y Astilleros Nacionales CA (Dianca) de fazer as contratações.

Cinco estaleiros brasileiros vão construir os 36 navios (dos quais oito terão o casco fabricado no país, com acabamento na Venezuela). Três são do Estado do Rio: Mauá-Jurong (Niterói), Eisa (Ilha do Governador) e Keppel Fels (Angra dos Reis). Em Pernambuco venceu o consórcio Atlântico Sul - liderado pela Camargo Corrêa - e em Santa Catarina, o estaleiro Itajaí. Mais cinco navios serão feitos na Argentina e dois, na Espanha.

- Nós competimos com China, Espanha e Argentina e ganhamos - destacou Rocha. - No dia 13 o Sinaval terá uma reunião com Chávez para os detalhes finais.

A PDVSA já tem 12 postos de combustíveis no Pará e vai construir com a Petrobras uma refinaria em Pernambuco. Além disso, a Venezuela tem projetos de participar de um gasoduto na América do Sul e quer comprar aviões militares da Embraer.

Ontem, a Venezuela anunciou um convênio que permitirá comprar tecnologia uruguaia para a estatal venezuelana Telecom. O ministro de Indústrias Básicas e Mineração da Venezuela, Víctor Alvarez, afirmou que o acordo busca fortalecer a integração latino-americana - uma das principais bandeiras de Chávez.

(*) Com agências internacionais

INCLUI QUADRO: SAIBA MAIS SOBRE O SETOR NAVAL