Título: VAGA SUPERIOR À DOS PAIS É CADA VEZ MAIS DIFÍCIL
Autor: Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 08/03/2006, Economia, p. 38

Mobilidade social do segmento tem maior freio, diz economista

SÃO PAULO. Com o abrupto encolhimento do mercado de trabalho a partir de 1980, a posse de um diploma universitário deixou de ser passaporte para a tão sonhada ascensão social. Na prática, os filhos de famílias de classe média têm hoje cada vez mais dificuldades para reproduzir o mesmo padrão de vida conquistado antes pelos os seus pais.

Considerando dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), elaborada pelo IBGE, o economista Marcio Pochmann mostra que em 1982 um em cada três (33%) filhos de família de classe média conseguia uma ocupação superior a dos pais - e, por tabela, melhor posição no estrato social.

Era a época, por exemplo, em que um pai metalúrgico - à custa do seu salário - via o filho se formar engenheiro e conseguir um emprego com carteira assinada. Em 1996, porém, essa relação (de 33%) caiu para apenas 25%.

'Ensino perde eficácia como via para emprego melhor'

A queda no índice de mobilidade entre 1982 e 1996 foi de 16,3%, superior a dos demais estratos de renda. Entre os integrantes da classe alta, a redução foi de 3,1%, e na baixa, de 0,4%. Pelo estudo do economista, a média no país foi de 3,1%.

- Percebe-se que a classe média foi a mais atingida em termos de mobilidade social, seja pelas transformações no interior do mercado de trabalho, que atingiu fortemente os empregos intermediários no interior do mercado de trabalho, seja pela perda de eficácia da educação em se transformar em passaporte para o emprego melhor - disse Pochmann, um dos quatro organizadores do livro "Classe média - desenvolvimento e crise".

Uma a cada dez pessoas com faculdade decide deixar país

Sem perspectivas de trabalho e melhores condições de vida, parcela dos jovens passou a buscar em outros países a oportunidade que não encontra no Brasil. Pochmann cita pesquisa da Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE, que reúne as nações mais desenvolvidas do mundo), segundo a qual quase um a cada dez brasileiros que chegam ao nível superior de educação decide deixar o país.

- Por ser um país de baixa escolaridade (seis anos de escolaridade média), a saída justamente do segmento com maior nível de escolaridade representa uma enorme contradição, uma vez que o esforço nacional realizado na promoção da educação termina sendo desperdiçado - disse o economista. (Aguinaldo Novo)