Título: MAIS SEIS FAZENDAS SÃO INVADIDAS EM PERNAMBUCO
Autor: Letícia Lins
Fonte: O Globo, 13/03/2006, O País, p. 5

Estado já tem 36 acampamentos e quase 100 mil pessoas em barracas em fazendas e à beira de estradas

RECIFE. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) invadiu ontem mais seis propriedades no interior de Pernambuco, estado com maior número de ocorrências desde o início da atual jornada de luta pela reforma agrária, no chamado 2006 Vermelho. Com as investidas de ontem, já somam 26 os novos acampamentos do MST nos últimos oito dias. No total, o estado está com 36 acampamentos, se forem levados em conta os feitos pela Fetraf (Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar), que no meio da semana ocupou dez fazendas no Agreste e no sertão.

Ontem o MST priorizou a região metropolitana e a Zona da Mata, onde se concentra a agroindústria açucareira, alvo principal dos 15 movimentos sociais que organizam ocupações no estado. A região açucareira tem 15 das 42 antigas usinas fechadas ou funcionando precariamente. Dos 250 mil cortadores de cana que trabalhavam na região até o início da década de 70, só restam 80 mil em atividade, assim mesmo no período da moagem.

Área canavieira é escolhida como alvo principal

Ontem a área canavieira foi escolhida como alvo principal do MST. A maior ocupação foi no engenho Pimentel, no município do Cabo de Santo Agostinho, a 20 quilômetros de Recife, onde 180 famílias levantaram suas barracas de lona negra. Também na Mata sul, foi invadido o engenho Cachoeira Dantas, município de Gameleira, a 99 quilômetros da capital, onde 100 famílias estão acampadas.

As outras invasões foram todas nos municípios de Aliança, a 86 quilômetros da capital, área conhecida por conflitos de terra com registro de mortes. Os acampamentos de Aliança foram menores, mobilizando um total de 240 pessoas, 60 em cada engenho. Foram ocupados os engenhos Cana Brava, Oitizeiro, Guararapes e Maribondo.

Lavradores estão há 10 anos sem emprego

Desde que deflagrou o chamado 2006 Vermelho em Pernambuco, o MST já mobilizou 3.900 famílias, segundo o coordenador regional do Movimento, Jaime Amorim. De acordo com ele, o MST tem agora 19.470 famílias acampadas, cerca de 97.300 pessoas vivendo precariamente em barracas de lona preta não só nas fazendas ocupadas mas também à margem de rodovias, como a BR-232 e a BR-101, que cortam Pernambuco. O problema tem ajudado a engrossar as fileiras de movimentos como o MST e a Fetraf. Nos acampamentos do MST, CPT, Fetraf e Federação dos Trabalhadores de Agricultura de Pernambuco (Fetafe), 80% dos lavradores que ocupam terras são egressos dos canaviais e estão há até uma década sem trabalho formal.

O Incra e o governo do estado consideram a situação da região explosiva. As ocupações tangenciando os acostamentos das rodovias normalmente são feitas por lavradores que foram expulsos por ações de despejo ou que se colocam vizinhos a propriedades cuja vistoria o Movimento exige. Com isso, os sem-terra driblam a Medida Provisória 2183/2001, que impede que áreas invadidas sejam vistoriadas pelo Incra até dois anos após a desocupação.