Título: Lula apóia uso do Exército para reaver armas
Autor: Fernando Duarte/Jaílton de Carvalho/Gerson Camarot
Fonte: O Globo, 10/03/2006, Rio, p. 16

Presidente, que autorizou operações no Rio, diz que militares devem localizar autores de roubo a quartel

LONDRES e BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem em Londres o uso do Exército na tentativa de recuperar as armas roubadas semana passada de um quartel em São Cristóvão. Embora tenha evitado falar sobre um eventual fracasso das operações no Rio, Lula disse que não pode haver tolerância com a ousadia de bandidos como os que invadiram a unidade.

- Nós só vamos saber se vamos ou não achar as armas se investigarmos. Se ficarmos de braços cruzados, não vamos achar absolutamente nada. O Exército tem que procurar aquilo que é seu. A gente tem que poder encontrar também quem foi o autor da façanha de entrar num quartel brasileiro e roubar armas - disse Lula, em entrevista coletiva no último dia da visita oficial ao Reino Unido.

A decisão de ocupar as favelas foi tomada pelo próprio presidente numa reunião com o vice-presidente, José Alencar, e com o comandante do Exército, general Francisco de Albuquerque. Lula autorizou a ação depois que Albuquerque deu detalhes sobre o ataque ao quartel. Na reunião, o comandante chegou a dizer para Lula que era "uma questão de honra" para o Exército recuperar as armas.

Lula determinou que PF ajudasse na operação

Lula concordou e determinou que o comandante procurasse antes o secretário Nacional de Segurança Pública, delegado Luiz Fernando Corrêa. O presidente argumentou que era necessário o apoio da Polícia Federal, que poderia ajudar no serviço de inteligência.

A promessa do comandante Albuquerque ao presidente foi de que rapidamente o Exército localizaria as armas roubadas. Mas passados sete dias do início da ocupação, os militares ainda não conseguiram pistas do paradeiro dos fuzis e da pistola, o que tem preocupado assessores do Palácio do Planalto. Na avaliação de um ministro envolvido no caso, o constrangimento só não é maior porque o governo já tem resultados de que a criminalidade caiu nas áreas ocupadas. Essa deverá ser a saída honrosa do governo caso o Exército não consiga encontrar as armas roubadas.

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, afirmou ontem que não vê problema no cerco do Exército:

- O Exército está fazendo essas operações baseado no Código de Processo Penal Militar. São buscas determinadas pela Justiça Militar.

O ministro não quis comentar sobre o bloqueio de ruas e revistas em menores e disse que o mais importante tem sido a redução dos índices de violência nas áreas ocupadas pelas tropas.