Título: Batalha à vista
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 11/03/2006, O GLOBO, p. 2

Com a apresentação do relatório da CPI dos Correios, no dia 21, terá lugar uma batalha crucial entre a oposição, decidida a demonstrar que o mensalão existiu e que o valerioduto foi abastecido também com recursos públicos, e os governistas empenhados em reduzir o escândalo à prática de caixa dois, que não teria sido exclusividade do PT. A tensão do auge da crise voltará com tudo, admitem os dois lados.

Os dois primeiros meses deste ano trouxeram um refresco para o PT e o governo. As CPIs trabalharam em marcha lenta durante quase todo o mês de janeiro e fevereiro foi marcado pelos problemas internos do PSDB com a escolha de seu candidato. O noticiário sobre o chamado dimasduto também inibiu tucanos e pefelistas. Neste início de março, mais notícias sobre mensalão, agora envolvendo o PMDB, o acesso da CPI dos Correios às contas de Duda Mendonça e novos ataques ao ministro Palocci, na CPI dos Bingos, arrancaram labaredas das brasas quase dormidas.

Mas o fogo vai subir mesmo, diz o senador tucano Tasso Jereissati, é na votação do relatório do deputado Osmar Serraglio. A oposição, diz ele, não transigirá com os delitos petistas nem se intimidará com a artilharia dos governistas.

O deputado Eduardo Paes, representante do PSDB e relator-adjunto da CPI, repete o diagnóstico:

¿ Ninguém espere um relatório ambíguo nem evasivo. Vamos mostrar cabalmente o desvio de recursos da Visanet para o valerioduto e também a relação entre saques no Banco Rural e votações de interesse do governo. Sabemos que eles tentarão sabotar a votação de um relatório nestes termos, que deixará para a História, não apenas para a campanha eleitoral, a memória do tombo ético do PT.

Do lado petista, o deputado Maurício Rands, também relator-adjunto, evita a agressividade verbal mas o que diz também aponta para um duelo.

¿ Nós queremos um desfecho que garanta a credibilidade da CPI. O relatório deve ser abrangente, não deixando nada sob o tapete. Ele precisa contar a história inteira do valerioduto, não apenas a parte relacionada com o PT. Deve dizer que o esquema começou em 1998, na campanha do senador Azeredo, com empréstimos para o PSDB junto ao Rural. Terá que fazer menção às denúncias sobre o dimasduto, embora não tenham avançado na investigação. Neste termos, estamos dispostos a aprovar o relatório, evitando que a CPI termine como a do Banestado.

Seria simples se a oposição estivesse disposta a subscrever uma narrativa da crise que lhe tira das mãos o fuzil que terá contra o PT na campanha. Como não está, haverá guerra.