Título: TUCANOS ESCOLHEM... UM PAULISTA
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 11/03/2006, O País, p. 3

Serra e Alckmin dizem ao PSDB que querem enfrentar Lula, mas anúncio só sai terça

Ocomando do PSDB decidiu ampliar a discussão sobre a escolha do candidato tucano à Presidência após ouvir ontem do governador Geraldo Alckmin e do prefeito José Serra que não abrem mão de disputar a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Depois de um dia tenso de reuniões separadas com os dois, o presidente do partido, Tasso Jereissati, disse que o anúncio só acontece terça-feira. Até lá, o governador de Minas, Aécio Neves, vai consultar líderes em todo o país sobre a escolha. Além de Tasso e Aécio, o ex-presidente Fernando Henrique acompanhou as negociações com o prefeito e o governador. Também teria sido cogitada a possibilidade de se lançar Alckmin para presidente e Serra para governador. Mas o prefeito deixou claro que o que quer é enfrentar novamente o presidente Lula.

Primeiro a receber a visita do triunvirato, Alckmin reiterou o interesse em disputar a Presidência e procurou dar um xeque-mate no comando partidário. Em conversa de uma hora e meia com Tasso, Fernando Henrique e Aécio, no Palácio dos Bandeirantes, o governador pediu a formação de um amplo colegiado para escolher qual dos dois será o candidato caso Serra também decidisse concorrer.

Com o apoio da maioria dos governadores tucanos e das bancadas na Câmara e no Senado, segundo pesquisas informais encomendadas pela direção estadual do PSDB e contabilidade feita por assessores do governador, Alckmin acredita que colocaria mais uma vez o prefeito contra a parede ao recomendar que a direção estenda o direito de opinar a outros líderes, como governadores, senadores, deputados e presidentes de diretórios estaduais.

Partidários de Alckmin e Serra contam com o seguinte cenário: Alckmin teria como certo o apoio dos governadores Marconi Perillo (GO) e Cássio Cunha Lima (PB), enquanto o prefeito de São Paulo contaria com a preferência de Aécio Neves e Lúcio Alcântara (CE), que seguiria orientação de Tasso. Já Simão Jatene (PA) e Otomar Pinto (RR), segundo fontes do governo paulista, teriam simpatia por Alckmin.

Até então com pouca disposição para enfrentar consulta, Serra, que logo depois também se reuniu com os três líderes do PSDB, na sede da prefeitura paulistana, comunicou que quer disputar a Presidência. A decisão de Serra de enfrentar Alckmin teria sido tomada durante infindáveis conversas por telefone com amigos na madrugada de ontem, nas quais foi convencido de que deveria aceitar o desafio de enfrentar Lula mais uma vez.

Nas conversas, o prefeito não descartou, porém, a possibilidade de disputar o governo do estado:

¿ Só concorreria ao governo de São Paulo se o partido me empurrasse para essa direção ¿ teria dito o prefeito aos dirigentes tucanos, segundo interlocutores.

Alegando que ¿dados e elementos fundamentais¿ para a escolha do candidato já estão decididos, Tasso deu sinais de que a escolha não pode mais se restringir à vontade de Serra ou de Alckmin:

¿ As conversas em São Paulo estão praticamente encerradas. Durante este final de semana o Aécio vai fazer uma conversação, uma consulta entre vários governantes. Por enquanto, não existe um nome ¿ disse.

Para Aécio, que chegou ontem de manhã do Canadá, as consultas devem ser amplas:

¿ O fundamental é que temos o nosso tempo. O PSDB não precisa decidir, seja seu candidato, a sua estratégia em razão das vantagens de outros. Não há confirmação oficial de candidatura de qualquer partido. Não vejo ainda motivo para açodamentos. As consultas estão sendo amplas para que a decisão seja absorvida não apenas pelo nome que vier a ser o candidato, mas por todo o partido ¿ disse o governador mineiro.

Sobre a tarefa que recebeu, disse que espera que seu trabalho contribua para fortalecer a unidade no partido.

¿ Conversarei com os governadores durante todo este fim de semana, passando a eles as nossas informações, e estou absolutamente convencido de que terça-feira teremos uma decisão que atenderá todo o partido, fortalecerá a sua unidade e, mais do que isso, nos dará grande largada ¿ disse Aécio.

No almoço com o triunvirato, Alckmin sugeriu que a decisão ultrapassasse os limites da cúpula do partido. Para Alckmin, o importante é que o candidato tucano não seja escolhido exclusivamente por Tasso, Fernando Henrique e Aécio.

¿ O processo não está definido, não está ainda concluído, mas é importante destacar que, quando o nome for escolhido, todos estaremos unidos ¿ disse o governador.

A proposta de ampliar o quadro de consultas teria sido acertada entre Serra e Alckmin no encontro que os dois tiveram anteontem na casa de José Henrique Reis Lobo, atual chefe de Gabinete da prefeitura e amigo do governador de São Paulo. Lá, Alckmin e Serra discutiram por mais de uma hora a possibilidade da seguinte chapa para as eleições deste ano: Alckmin para a Presidência, Serra para o governo de São Paulo e Fernando Henrique para o Senado.