Título: AMORIM COBRA, EM LONDRES, MAIOR FLEXIBILIZAÇÃO DE PAÍSES RICOS NA OMC
Autor: Fernando Duarte
Fonte: O Globo, 11/03/2006, Economia, p. 26

Ministro diz que Brasil exige contrapartida a concessões prometidas por Lula

LONDRES. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse ontem, durante palestra na London School of Econmics, que os países desenvolvidos terão que fazer maiores sacrifícios em prol de um acordo global de comércio. Na véspera, em seu último dia de visita ao Reino Unido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmara que o Brasil estaria disposto a fazer concessões nas áreas de serviços e bens industriais para destravar a chamada rodada de Doha na Organização Mundial do Comércio (OMC).

O ministro ¿ que participa neste fim de semana de uma rodada emergencial de negociações entre Brasil, Índia, União Européia (UE), Austrália, EUA e Japão ¿ disse acreditar que os países em desenvolvimento foram os que mais terreno cederam historicamente no tocante à abertura de seus mercados e que nações mais desenvolvidas sempre levaram vantagem até a rodada Uruguai, de 1994, quando foi criada a OMC.

Para Amorim, a exigência de UE e EUA em relação aos setores de serviços e bens industriais teria de ser acompanhada por uma abertura no setor agrícola, ponto que parece ser o principal entrave nas negociações.

¿ Temos que enfatizar a questão da proporcionalidade e da justiça, pois o nível de sacrifício que se exige dos países em desenvolvimento não é o mesmo que se exige dos países desenvolvidos ¿ afirmou o ministro.

Amorim diz que proposta de Lula e Blair recebeu adesões

O encontro de Londres é mais uma tentativa de acordo antes da data-chave de 30 de abril, que possibilitaria uma conclusão das negociações antes de abril de 2007. Embora nenhuma das partes admita que o não cumprimento desse cronograma vá provocar uma crise, Amorim concorda que tal possibilidade afetaria o que chamou de pressão negociadora.

EUA e UE só admitem negociar pontos como a eliminação dos subsídios agrícolas em troca de maior acesso aos mercados de Brasil e Índia. Ontem, o comissário europeu para Assuntos de Comércio, o britânico Peter Mandelsson, deixou tal ponto de vista bastante claro:

¿ Todos pusemos ofertas na mesa. Poderemos revisá-las se houver um incentivo suficiente, o que ainda não aconteceu ¿ afirmou Mandelsson.

O ministro brasileiro disse ter recebido sinais positivos à propostas de uma reunião de cúpula de líderes mundiais para tentar salvar as negociações, apresentada conjuntamente por Lula e o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, na quinta-feira. Amorim disse acreditar que a reunião poderia ocorrer no meio do ano e não comentou a oposição à proposta do francês Pascal Lamy, diretor-geral da OMC, para quem a reunião criaria tensão desnecessária.

Ao chegar à London School of Economics, o ministro enfrentou com bom humor uma manifestação contra os desequilíbrios comerciais no mundo. Os manifestantes, vestidos de tubarões, deram uma prancha de surfe a Amorim, com o slogan ¿desenvolvimento¿. A reunião dos seis membros da OMC, na casa do ministro britânico de Relações Exteriores, Jack Straw, também atraiu manifestantes anti-globalização.

(*) Com agências internacionais

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