Título: INFLAÇÃO PELO IPCA É A MENOR DESDE MAIO DE 2004
Autor: Mirelle de França
Fonte: O Globo, 11/03/2006, Economia, p. 27

Com recuo do índice para 0,41% em fevereiro, acumulado em 12 meses cai a 5,51% e taxa pode ficar abaixo da meta

RIO e SÃO PAULO. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou para 0,41% em fevereiro, contra 0,59% no mês anterior, informou ontem o IBGE. No últimos 12 meses, a taxa ¿ usada como parâmetro pelo governo no sistema de metas de inflação ¿ acumula alta de 5,51%, o menor nível desde maio de 2004. De acordo com Eulina Nunes, coordenadora do IBGE, a tendência é de queda e o IPCA pode atingir no fim do ano a meta de 4,5% ou até mesmo cair para patamares inferiores:

¿ Na série histórica dos últimos 12 meses, fica claro a tendência para valores cada vez menores. O resultado em relação a janeiro já caiu de 5,70% para 5,51%.

Para conter a inflação ¿ que em abril do ano passado chegou a 8,07% no acumulado em 12 meses ¿ o Banco Central (BC) elevou os juros básicos para 19,75% ao ano. Desde setembro, o BC vem reduzindo lentamente a Selic e, na última quarta-feira, a taxa caiu para 16,50%.

Em fevereiro, o IPCA foi pressionado pelo aumento de 5,38% nas mensalidades escolares. Isoladamente, representou um impacto de 0,21 ponto percentual sobre a taxa. Ou seja, praticamente a metade da inflação do mês. Já as reduções de preços (deflação) que ajudaram a segurar o IPCA ocorreram nos grupos de vestuário (-0,54%), artigos de residência (-0,39%) e alimentação e bebidas (-0,28%).

Rio teve a maior taxa no mês passado: 0,74%

Por regiões, o Rio foi a que registrou a maior inflação em fevereiro, de 0,74%. O motivo foi o reajuste dos transportes.

Segundo economistas, os recentes aumentos dos preços do álcool são a única pressão sobre o IPCA em março. Isso embora a alta do produto em fevereiro, de 2,88%, tenha sido inferior aos 9,87% de janeiro.

¿ Há notícias de que os preços do álcool voltaram a subir. Mas não há outro movimento que indique alta da inflação em março ¿ frisou a coordenadora do IBGE.

O economista da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha diz que o IPCA de fevereiro veio dentro da expectativa do mercado. Ele alertou, porém, para o reajuste do álcool este mês:

¿ A tendência é de queda, a taxa está convergindo para a meta de 4,5%. Em março, esperamos uma inflação de 0,30%. No geral, os números estão muito positivos.

O economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles, prevê queda em março, mas alerta também para o álcool.

¿ Os sinais são de queda, mas resta saber, agora, qual a velocidade em que isso vai acontecer ¿ ressaltou Teles.

Para o coordenador de Análises de Preços da FGV, Salomão Quadros, a tendência também é de desaceleração dos índices. Ele lembra que a alta sazonal nas escolas já impactaram os números de fevereiro.

IGP-M inicia março com deflação e Fipe apura 0,16%

No mês passado, a inflação foi ainda menor para os mais pobres. O INPC ¿ que mede a inflação para quem ganha até oito salários-mínimos (o IPCA reflete a variação dos preços para quem recebe até 40 mínimos) ¿ recuou para 0,23%. Em janeiro, o índice tinha ficado em 0,38%.

Já o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) medido pela Fipe registrou, na primeira quadrissemana de março, inflação de 0,16% na capital paulista. Em fevereiro houve deflação de 0,03% e na primeira prévia daquele mês a taxa fora de 0,20%. O item com maior alta de preços foi transportes (0,67%). Mas dois grupos tiveram deflação: despesas pessoais (0,11%) e vestuário (0,61%). Já a primeira prévia do IGP-M, calculado pela FGV, apresentou deflação de 0,09%. Em fevereiro, no mesmo período, a taxa ficara em 0,03%.

Para o economista Marco Antonio Franklin, da Plenus Gestão de Recursos, o recuo da inflação pode acelerar o corte da Selic.

¿ Ela deve continuar a cair e poderemos ter até uma surpresa positiva até o fim do ano.