Título: POSSE NO CHILE
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 11/03/2006, O Mundo, p. 33

Bachelet inicia seu `governo cidadão¿

Nova presidente tem plano emergencial de cem dias

ede do governo) para o povo

Olema do novo governo está em cartazes nas principais avenidas de Santiago: ¿O Chile precisa da força da mulher.¿ Essa mulher é Michelle Bachelet, a líder socialista que hoje assume a Presidência até 2010. O principal objetivo desta médica que se dedicou a estudos militares é fundar um ¿governo cidadão¿, mais próximo do povo, como explicaram ao GLOBO seus colaboradores.

Em seus primeiros cem dias de gestão, Bachelet ¿ que será empossada hoje ¿ pretende adotar 36 medidas emergenciais, entre elas um reajuste das pensões pagas pelo Estado, melhoria no atendimento em hospitais públicos e a criação de um subsídio para financiar os cuidados com crianças de até 3 anos provenientes dos setores mais pobres da população.

Os três eixos do programa de governo são: a implementação de um novo sistema de proteção social, um salto no desenvolvimento e um novo tratado cidadão. ¿A verdadeira sociedade democrática é aquela na qual os cidadãos possuem voz e capacidade para ter influência nos processos de decisão¿, diz o programa da nova presidente, que se diz disposta a abrir as portas do Palácio de la Moneda (sede do governo) ao povo.

Elite tradicional afastada do poder

Algumas das 36 medidas já elaboradas pela equipe do novo governo deverão passar pelo Congresso, mas isso não representa obstáculo para Bachelet, já que, pela primeira vez desde a redemocratização do país, em 1990, a aliança entre socialistas e democratas cristãos (a chamada Concertação) terá maioria nas duas câmaras do Parlamento.

Para analistas locais, o novo governo representa, ao mesmo tempo, mudança e continuidade.

¿ Bachelet mudou os nomes, afastou a tradicional elite chilena do poder. Mas a política, pelo menos por enquanto, mostra ser uma continuidade do governo de Ricardo Lagos ¿ afirmou Ricardo Israel, diretor da Escola de Ciências Sociais e Jurídicas da Universidade do Chile.

Segundo Israel, um dos maiores desafios de Bachelet será melhorar as condições de vida da classe média, ¿bastante abandonada pela Concertação¿.

Durante o governo Lagos, o índice de pobreza caiu de 40% para 18%, mas a desigualdade social aumentou. Uma das metas de Bachelet é aprovar uma reforma da Previdência que garanta a todos os chilenos acesso a uma aposentadoria digna. ¿Impulsionaremos um amplo sistema de proteção social que acompanhe as pessoas ao longo de seu ciclo vital, protegendo seus primeiros passos, assegurando o acesso à educação e ao trabalho, defendendo as pessoas da criminalidade e garantindo uma velhice digna¿, diz o programa. A primeira mulher a ocupar a Presidência do Chile pretende ser, basicamente, uma mãe para todos os chilenos, sobretudo os mais desamparados.

Muitas autoridades desembarcaram ontem em Santiago para a posse, entre elas o presidente da Bolívia, Evo Morales, que presenteou Bachelet com um charango, instrumento típico de seu país. Ao chegar, o vice-presidente do Conselho de Estado de Cuba, Carlos Lage, disse que o presidente Fidel Castro não pôde vir, mas em breve visitará o Chile.

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