Título: Alckmin quase lá
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 14/03/2006, O GLOBO, p. 2

Aceitando a candidatura presidencial mas recusando-se a participar de uma disputa interna no PSDB, o prefeito José Serra abriu caminho para a confirmação da candidatura do governador Geraldo Alckmin. Espera-se que uma nova pesquisa aponte crescimento de Serra no confronto com Lula, realçando a prevalência da unidade sobre a competitividade na opção tucana.

Na quinta-feira Serra já havia dito aos coordenadores do processo ¿ Fernando Henrique, Tasso Jereissati e Aécio Neves ¿ que em nenhuma hipótese aceitaria a disputa interna, por considerá-la altamente nociva ao partido e ao resultado da campanha e da disputa. Neste mesmo dia Alckmin dissera aos três ¿ e repetira ao próprio Serra ¿ que se jogaria com todo entusiasmo na campanha do prefeito, desde que ele o derrotasse numa consulta mais ampla ao PSDB. Não precisava ser prévias, poderia ser uma consulta ao diretório nacional, que seria convocado às pressas, uma vez que Serra teria de deixar a prefeitura até o dia 30. Como gostam de dizer os políticos, Alckmin foi até a última hora sem piscar. Deve levar.

Ao longo do final de semana os serristas, coordenados pelo deputado Jutahy Júnior, que se plantou num hotel em São Paulo, tentaram convencer o prefeito a enfrentar a consulta, garantindo-lhe que era possível construir a maioria de votos. Serra ficou de responder até ontem à noite e no final do dia declarou pela primeira vez que colocava seu nome à disposição do partido mas não aceitaria participar de prévias. Segundo aliados, avaliou que mesmo ganhando não teria tempo para curar as feridas da disputa, no diretório ou em qualquer instância, e levar o partido unido para a disputa.

¿ Não vou arrancar esta candidatura a cotoveladas ¿ teria dito a alguns.

A recusa repercutiu imediatamente no PFL, amplamente favorável a Serra, em nome de sua maior competitividade e de olho na prefeitura que herdaria.

¿ Serra está certo. Um favorito não tem que aceitar prévias ¿ disse o líder Rodrigo Maia. Se escolhido, Akckmin terá que trabalhar a assimilação de seu nome pelos pefelistas-serristas.

Mesmo recusando a disputa, ao deixar seu nome à disposição do partido Serra dificultou a tarefa dos três cardeais sagradores. Resolveram eles chamar hoje a São Paulo para um almoço todos os governadores do partido. A presença é uma tentativa de legitimar um desfecho que, se ocorrer mesmo hoje, não terá decorrido de consultas nem de avaliações objetivas mas de uma queda-de-braço. Serra perdeu tempo, deixou o cavalo passar e Alckmin o montou, mesmo tendo menos chances de ganhar a corrida. Enquanto Serra crescia nas pesquisas esperando ser ungido ou aclamado, Alckmin trabalhava e se impunha ao partido. Os serristas subestimaram sua persistência e sua obstinação. A disputa racharia o PSDB e ajudaria Lula, chegou a dizer Serra. Resta saber se esta forma conflituosa que o processo tomou também não deixará sequelas e feridas.