Título: TASSO E AÉCIO CORREM PARA SAO PAULO
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 14/03/2006, O País, p. 3

BRASÍLIA. Diante da surpreendente declaração do prefeito José Serra, o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati, e o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, desembarcaram ontem à noite em São Paulo. Havia a perspectiva de que o triunvirato tucano (Tasso, Aécio e o ex-presidente Fernando Henrique) poderia se reunir com Serra e Alckmin ontem mesmo, antes do anúncio formal do partido, esperado para hoje. São esperados hoje em São Paulo também os governadores Marconi Perillo (GO), Cássio Cunha Lima (PB) e Simão Jatene (PA), além de representantes das bancadas na Câmara e no Senado, presidentes de diretórios estaduais e outros líderes.

Partiu de Aécio o convite para os governadores participarem hoje da decisão do PSDB. O partido ainda resistia à idéia de promover uma consulta ao Diretório Nacional, com mais de 200 integrantes, para decidir entre Alckmin e Serra. Ontem cresceu a pressão por uma escolha definitiva logo.

¿ Alguém vai ter de desistir ou ser derrotado. Melhor que ninguém seja derrotado. A disputa não é saudável neste contexto. A palavra de ordem agora deve ser a do bom senso. Amanhã (hoje) acaba a paciência de todo mundo. Não aceito mais adiamento, apenas um anúncio ¿ afirmou o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), sem esconder a impaciência e a irritação com a demora do partido para escolher seu candidato.

A aliados mais próximos, Serra confidenciou que tinha perdido o apoio de Fernando Henrique Cardoso, Aécio e Tasso. Também disse que não poderia disputar com Alckmin na medida que isso representaria a divisão do partido. Ao mesmo tempo deixou claro que registraria, na reunião de ontem à noite com Tasso, Aécio e Fernando Henrique, que seu nome estaria à disposição do PSDB.

Durante o dia, em desabafo, Serra disse que teria sido traído pela cúpula tucana nesta reta final. Não escondeu sua contrariedade com o lançamento de seu nome para o governo de São Paulo por Fernando Henrique. E não gostou das manifestações internas de políticos cearenses, ligados a Tasso, que evidenciaram preferência por Alckmin. O que mais incomodou o prefeito foi a notícia de que Aécio teria optado pela candidatura de Alckmin. Durante o dia, o governador mineiro telefonou para Serra desmentindo os boatos.

¿ Não existe apoio individual a A ou B, até porque o papel que me foi delegado é o da construção da unidade partidária. Eu não poderia prestar apoio neste momento a ninguém porque diminuiria a minha contribuição para o PSDB ¿ disse Aécio.

Mesmo assim Serra estava convicto de que tinha perdido o aval do comando do partido. Os próprios aliados do prefeito estavam divididos. Enquanto um grupo insistia para que ele mantivesse a candidatura, outro avaliava que Alckmin já tinha consolidado a vantagem interna. A constatação da cúpula partidária ontem era a de que Serra demorou demais para manifestar seu desejo de disputar a sucessão presidencial.

Já os aliados de Alckmin estavam convencidos de que Serra iria desistir, temendo uma derrota para Lula e o risco político da sua renúncia da prefeitura.