Título: NA VÉSPERA, SERRA ENFIM DIZ SIM
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 14/03/2006, O País, p. 3

Partido fica com dois pré-candidatos declarados mas prefeito afirma que não quer prévias

Depois de dois meses evitando se declarar candidato à Presidência, o prefeito de São Paulo, José Serra, anunciou publicamente ontem, pela primeira vez, que está à disposição do PSDB para concorrer à sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva. Serra, no entanto, condicionou sua participação à não realização de prévias. O anúncio, feito na véspera do dia marcado pela cúpula tucana para a escolha, provocou um revés nas articulações do PSDB. O governador Geraldo Alckmin, também pré-candidato, reafirmou que só desiste se assim for decidido pelo partido após consulta às bases.

Alegando que a decisão não é pessoal, "como muita gente vinha pensando", Serra transferiu a responsabilidade sobre a escolha para o comando do partido. A resistência do prefeito até então encontrava explicações na promessa que fizera durante a campanha eleitoral de se manter na prefeitura paulistana até o fim do mandato, no fim de 2008.

Prefeito diz ser mais forte contra Lula

O prefeito disse que tomou a decisão também por ter sido convencido por dirigentes tucanos sobre suas chances de vencer o presidente Lula na eleição de outubro.

¿ Vou me apresentar para a direção do PSDB em razão do fato de que as pesquisas há muitos meses apontam o meu nome como o mais forte para disputar com o presidente Lula este ano ¿ disse, no início da noite, na sede da prefeitura.

O prefeito teve no domingo longa conversa com o ex-presidente Fernando Henrique, que já o havia aconselhado a ter "coragem e ousadia" nesse momento. Na porta de sua casa ontem, Serra anunciou o que já era esperado por parte da cúpula. O prefeito disse, porém, que teme a realização de prévias pela divisão que elas podem provocar no partido.

¿ Não há condições de fazer uma prévia no PSDB, porque vai acabar dividindo o partido, criando problemas, rivalidades, e inclusive, no fundo, favorecendo o adversário ¿ disse o prefeito, pregando a unidade partidária.

¿ Esta é uma hora em que precisamos de muita unidade, união, esforço e humildade para se fazer uma campanha dessa natureza ¿ disse o prefeito, que chamou de legítima a postulação de Alckmin para disputar a Presidência. O prefeito, porém, disse ser inadequado o fato de Alckmin tentar impor um sistema de prévias para que o partido possa escolher.

¿ O governador Alckmin legitimamente também se apresenta como candidato a presidente da República. Eu quero dizer que (ele) tem toda a legitimidade para isso. Ele fala, inclusive, em se fazer uma prévia, uma consulta prévia, coisas assim. Eu acho isso, no entanto, inadequado do ponto de vista da soma de forças que se necessita para uma campanha muito difícil como a que teremos pela frente ¿ disse o prefeito, que lançou seu nome com críticas ao governo Lula.

¿ Tenho presente que o Brasil precisa mudar. O Brasil, nos últimos anos, foi tomado por uma onda de corrupção, de perda de moralidade na vida pública, da economia estagnada, com desemprego alto e em elevação, que é o que vai acontecer neste ano. Temos de dar um outro rumo para o Brasil ¿ acrescentou.

No embate silencioso com Alckmin, Serra oscilou várias vezes entre a certeza de que estaria na disputa e a difícil decisão de renunciar à prefeitura paulistana. Enquanto protelava o anúncio, procurava transferir para a direção do partido ¿ o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, o ex-presidente Fernando Henrique e o governador Aécio Neves ¿ a decisão. Ao se lançar ontem, o prefeito pôs não só Alckmin mas toda a direção partidária contra a parede. Os líderes tucanos preparavam para hoje um grande evento para anunciar publicamente o escolhido.

COLABOROU Adauri Antunes Barbosa