Título: SUICÍDIO POLÍTICO
Autor:
Fonte: O Globo, 14/03/2006, Opinião, p. 6

Acampanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva promete cenas explícitas de desencontros entre o candidato e o PT, seu partido. Ainda a cerca de três meses de Lula formalizar o lançamento de sua candidatura para tentar se manter no Palácio do Planalto por mais quatro anos, vai ficando evidente que o candidato e o partido devem trilhar caminhos diferentes.

Enquanto para Lula certamente interessa preservar um possível segundo mandato de qualquer especulação sobre guinadas na política econômica, o PT parece se inclinar à esquerda, numa tentativa de compensar os danos causados pelo envolvimento do partido no esquema do mensalão.

Em mais uma reedição da tendência petista de conspirar contra o próprio patrimônio, o partido se prepara para no próximo fim de semana bombardear a política econômica do governo do seu fundador. Um documento reservado a que teve acesso o jornal ¿O Estado de S. Paulo¿ intitulado ¿Conjuntura, tática e política de alianças¿, a ser discutido nesse encontro, prega nada menos do que uma intervenção no Banco Central, que passaria a também perseguir uma meta de crescimento econômico e de emprego, na contramão da sensatez. Não existe no mundo avançado Banco Central que não centre o foco na política monetária, no combate à inflação. O crescimento é uma decorrência da estabilidade.

Setores do PT hoje mais influentes no partido do que antes do escândalo do mensalão pensam diferente e pressionarão Lula a acolher teses heterodoxas, apesar de a política econômica ser o único êxito indiscutível do governo. Mas é como ironiza o ex-ministro e deputado Delfim Netto: há uma esquerda que nada aprendeu nos últimos 50 anos, mas também nada esqueceu.

No fundo, trata-se do equívoco de sempre, histórico entre certa esquerda, e que move parte do PT, inclusive com influência no governo: os problemas do país serão resolvidos com mais gastos públicos.

Ora, é o contrário. O crescimento desmesurado dos gastos correntes ¿ há anos eles vêm aumentando mais que o PIB ¿ conseguiu travar a economia, por requerer uma carga tributária indecente (38% do PIB), reduzir os investimentos em infra-estrutura e manter elevados os juros.