Título: BIRD: IGUALDADE FARÁ BRASIL CRESCER MAIS
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 14/03/2006, Economia, p. 25

Economista do Ipea diz que país ainda precisa de 20 anos para chegar à média mundial

RIO e PORTO ALEGRE. O economista-chefe do Banco Mundial (Bird), François Bourguignon, defendeu ontem, no Rio, a adoção de políticas que aumentem a igualdade de oportunidades entre as pessoas (eqüidade) como instrumento de justiça social e de promoção do crescimento econômico. Esta é, segundo ele, uma das principais conclusões do Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2006, do Bird, segundo o qual 20% da desigualdade social no Brasil decorrem de fatores fora do controle do cidadão, como escolaridade e profissão dos pais, raça e local de nascimento.

¿ Uma sociedade em que muitos não têm acesso à educação, ao crédito etc. não pode alcançar o seu potencial econômico ¿ disse Bourguignon, na sede do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O economista do Ipea Ricardo Paes de Barros também apresentou estudo mostrando que 24% da queda da desigualdade no Brasil, entre 2001 e 2004, foram proporcionados pelo Bolsa Família e outros programas de transferência de renda. Já a educação teria contribuído com apenas 12%.

¿ O Bolsa Família tem efeito positivo imediato. Representa também um investimento no acúmulo de capital humano, especialmente das crianças, por meio da educação. Por isso, podemos esperar que contribua para reduzir a desigualdade futura no mercado de trabalho ¿ disse Bourguignon.

Segundo Paes de Barros, a desigualdade no mercado de trabalho explica a maior parcela do problema no Brasil, onde o índice permaneceu alto nos últimos 20 anos, começando a declinar em 2001. Mas o país precisaria repetir a mesma trajetória de queda dos últimos três anos, por 20 anos, para chegar à média mundial de desigualdade.

Nobel: retorno é alto com investimento na infância

Em Porto Alegre, o prêmio Nobel de Economia de 2000, James Heckman, disse que o país que investe na primeira infância pode ter um acréscimo de 0,2 a 0,3 ponto percentual ao ano no Produto Interno Bruto (PIB) em relação ao que não faz esse investimento. O retorno do investimento em crianças de famílias carentes atinge 18% ao ano.

¿ Quanto mais cedo começar o programa para a primeira infância, melhor será o impacto social, seja na redução da violência, na questão do emprego ou da gravidez precoce.