Título: Avanços e recuos
Autor:
Fonte: O Globo, 12/03/2006, Opinião, p. 6

Costuma-se dizer que o Congresso é um espelho da sociedade, com todos seus aspectos positivos e negativos. Pode ser. A teoria faz sentido. Mas não resolve o problema de um país que precisa aprimorar as instituições, entre elas o Poder Legislativo.

Se a explicação convence por sua lógica, ela é, porém, inócua diante da imperiosa necessidade de se contar com um Congresso e casas legislativas mais bem qualificados e com maior representatividade.

É provável que os tradicionalmente baixos índices de popularidade dos políticos, e do Congresso em particular, fiquem ainda mais próximos de zero nesta reta final de legislatura ¿ muito a depender, também, do desfecho das investigações do mensalão e de outras denúncias. A absolvição dos deputados Roberto Brant, do PFL mineiro, e Professor Luizinho, do PT paulista, beneficiários do valerioduto, não ajuda a imagem dos políticos.

Mas se a questão for abordada numa visão mais ampla ¿ afinal, as legislaturas se sucedem a cada quatro anos ¿ a melhor postura do cidadão é tratar de escolher com cuidados ainda maiores seus representantes.(A frase é um chavão desgastado, nem por isso menos verdadeira). E para que ele possa exercer na plenitude essa escolha, o sistema político precisa ser aperfeiçoado. E está sendo, num processo lento e, como é da vida política, com avanços e recuos.

A excessiva pulverização de legendas, mazela decorrente da Constituição de 1988, começará a ser combatida nestas eleições por estar em vigor a cláusula de barreira. Com menos legendas, aumentará a transparência nas negociações interpartidárias.

Falta muito para que os partidos como um todo ganhem consistência e identidade, livrando-se da dependência dos puxadores de voto, políticos quase sempre demagogos e oportunistas. O caminho é longo, mas alguns passos têm sido dados.

A pressão da opinião pública por uma reforma política adequada cumpre um papel estratégico na luta pela modernização do Poder Legislativo. Passo a passo.