Título: UM PEFELISTA POLÊMICO À ESPERA
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 12/03/2006, O País, p. 8

Para os amigos, articulador político eficiente e determinado; para os adversários, um ex-aliado de Pitta

SÃO PAULO. Gilberto Kassab, de 45 anos, é um homem pragmático. Solteiro, dedica seus dias a duas funções: fazer política e cuidar dos seus negócios. Formado em engenharia civil e economia pela Universidade de São Paulo (USP), foi guindado do movimento estudantil mais identificado à direita por um de seus gurus: o presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen. Hoje é o secretário nacional e um dos principais articuladores políticos do PFL.

Suspeito de enriquecimento ilícito, conseguiu impedir, na Justiça, a quebra de seu sigilo bancário e fiscal. O caso está parado na Procuradoria Geral do Estado. O patrimônio de Kassab, que era de R$102 mil em 1994, saltou para R$3,9 milhões em 2004. Kassab nega que tenha enriquecido ilicitamente. Ele tem quatro empresas, em sociedade com o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Rodrigo Garcia (PFL), cujo sigilo também não pôde ser quebrado por causa do cargo eletivo. Não há hoje qualquer investigação em curso contra o vice-prefeito.

No meio tucano, Kassab é apontado como o comandante de uma das piores derrotas do governador Geraldo Alckmin. Em março de 2005, na eleição para a presidência da Assembléia, a vitória de um dos principais articuladores do governador, o deputado Edson Aparecido, era dada como certa. Os tucanos contavam com o apoio do vice-governador, Cláudio Lembo, que teria o controle do PFL paulista. Mas, seis dias antes da eleição, o deputado Rodrigo Garcia (PFL), sócio e amigo de Kassab, lançou-se candidato pelo PFL, com o apoio da bancada petista. A negociação, vitoriosa, teria sido feita por Kassab, acirrando mais ainda a briga entre alckmistas e serristas.

No PFL desde 1995, Kassab foi vereador e deputado, e só teve um cargo executivo entre 1997 e 1998, como secretário de Planejamento na gestão do então prefeito Celso Pitta. Seu nome não foi uma escolha do prefeito. Foi imposto pelo PFL, tem afirmado Pitta. Serra também não escolheu Kassab, indicado pelo PFL.

No segundo turno da campanha de 2004, quando Serra e a então prefeita Marta Suplicy disputavam o eleitorado e polemizavam em torno de seus vices, uma pesquisa Datafolha mostrou que 58% dos eleitores sabiam o nome do vice de Serra. O vice de Marta, Ruy Falcão (PT), era conhecido apenas por 16%.

Na definição dos amigos, Kassab é um ¿workaholic¿. Bom articulador, se acostumou a atuar nas sombras do poder. Não tem muita vida pessoal, é prático e determinado. Memória de elefante, sabe usar as informações para direcionar as situações a seu favor.

¿ Ele é dedicado, desprendido e determinado. É conciliador e muito prático ¿ diz Rodrigo, o presidente da Assembléia, um dos amigos mais íntimos de Kassab há 15 anos.

Para os inimigos, Kassab não é bem assim. Determinado demais, seria um oportunista. Para os petistas, é membro do ¿grupo do Pitta¿ acusados de corrupção. Na campanha de 2004, a ex-prefeita Marta Suplicy repetia: ¿Ele é da turma do Pitta. Se algo acontecer ao Serra, a turma do Pitta voltará à prefeitura¿.