Título: PFL CONTA OS DIAS PARA ASSUMIR LUGAR DE SERRA
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 12/03/2006, O País, p. 8

Partido trabalha para ampliar sua atuação em São Paulo, com provável substituição do tucano pelo vice Gilberto Kassab

SÃO PAULO. Antes mesmo de o PSDB anunciar quem será o candidato para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PFL já pôs em curso uma operação para comandar a Prefeitura de São Paulo, no lugar de José Serra (PSDB), e ampliar sua ação para as eleições de 2008 e 2010. Secretário nacional do PFL, o vice-prefeito, Gilberto Kassab, vem se preparando para o cargo desde agosto passado, quando começou a crise que atordoou o PT e acendeu as ambições da oposição.

A transição, discreta, está em curso na Prefeitura e na Câmara Municipal. Kassab ganhou influência, conhecimento e poder de articulação diante da possibilidade de vir a assumir o lugar de Serra. Ele já tem controle sobre todo o governo, participando diretamente de reuniões em todas as áreas. Além disso, teria articulado na Câmara, fazendo crescer as expectativas do ¿centrão¿ (formado por PL, PTB, PP, PMDB, PSB e PFL). De dois vereadores eleitos, o PFL já tem sete na bancada, e uma projeção para dez ou até 15 cadeiras com Kassab no poder.

Discreto, o vice nega as articulações e promete manter a marca de Serra, caso este saia para disputar as eleições, até 2008:

¿ Estou lendo todos os relatórios da administração municipal por causa dessa expectativa que se criou. Tenho feito isso desde agosto.

Segundo Kassab, não existe excitação do PFL diante da perspectiva de assumir o governo do estado e a prefeitura, segundo e terceiro maiores orçamentos do país, respectivamente com R$80 bilhões e R$17 bilhões em 2006. Ele diz que seguirá as diretrizes de Serra:

¿ O que posso afirmar é que, se o prefeito tiver mesmo outro projeto, estarei sempre sintonizado com o plano de governo, que é meu também. Estarei sempre junto com Serra.

Amigo de Kassab, o senador Jorge Bornhausen (PFL) nega qualquer articulação de seu partido em busca de consolidação em São Paulo:

¿ Não haverá qualquer mudança, nem nos secretários, seja no estado ou na prefeitura.

Tucanos temem demissões

Mas não é essa a opinião de diversos tucanos tanto ligados ao governador Alckmin quanto a Serra. Um secretário de Serra afirmou que Kassab poderá até manter os projetos de gestão, sem sobressaltos para os paulistanos, mas a um custo alto para o PSDB: passado outubro, Kassab começaria a demitir tucanos que estão na prefeitura.

Os tucanos afirmam que o plano do PFL é, a partir da prefeitura de São Paulo, ampliar a presença do partido no estado, abocanhando inclusive os órfãos do malufismo, estimados em cerca de 11% do eleitorado. Serra teria feito um acordo com Kassab: sua marca seria mantida até 31 de dezembro.

¿ Mas o PFL se articula desde agosto e está excitadíssimo em todo o estado. Não se trata apenas de controlar o Kassab, mas todo o PFL paulista e mais os malufistas ¿ disse um líder tucano próximo de Serra.

No caso de Alckmin sair para disputar a Presidência, o vice-governador, o pefelista Cláudio Lembo, não preocupa o tucanato. É comparado a Marco Maciel, o discreto vice do ex-presidente Fernando Henrique. Lembo atua na política desde a extinta Arena e hoje, com mais de 70 anos, tem afirmado que, terminado o governo, sairá da política. Além disso, Lembo teria apenas nove meses para administrar um já direcionado orçamento do estado.