Título: PROMESSAS DA CHINA AO BRASIL DEMORAM A SAIR DO PAPEL
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 12/03/2006, Economia, p. 40

Acordos negociados em novembro de 2004 tiveram pouco resultado prático, pelo menos para os brasileiros

BRASÍLIA. O acordo firmado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em novembro de 2004, com o colega chinês Hu Jintao, recheado de promessas dos chineses de abertura comercial em troca do reconhecimento do país asiático como economia de mercado, não foi um bom negócio. Pelo menos para os brasileiros. Até agora, o resultado é praticamente nulo. O saldo se resume a um acordo de restrição voluntária das exportações chinesas de têxteis para o Brasil, duramente negociado.

Segundo integrantes do governo brasileiro, a China não cumpriu o que fora prometido. Não derrubou as barreiras para a importação de carne e frango brasileiros e ainda não comprou os dez aviões da Embraer, no valor de US$200 milhões, que havia anunciado. Os chineses tampouco ajudaram o Brasil, candidato a uma vaga permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, nas discussões travadas na ONU. A China tem uma vaga permanente no Conselho, junto com Estados Unidos, Rússia, França e Alemanha.

A resposta do Brasil foi óbvia: não foi formalizado o reconhecimento do status de economia de mercado. Fontes dos ministérios do Desenvolvimento e das Relações Exteriores argumentam que o acordo com a China foi meramente político, ou seja, não teve caráter jurídico. E só será levado adiante se surgirem resultados satisfatórios para o Brasil.

¿ Desde que o acordo foi anunciado, quatro frigoríficos foram habilitados a exportar para a China. Mas não vendemos nada até agora, pois o processo está emperrado ¿ confirma Antônio Camardelli, diretor da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec).

Mesmo com a frustração, as importações de produtos chineses cresceram 44,27% em 2005, frente ao ano anterior. Já as exportações brasileiras aumentaram 25,62%. O crescimento do ingresso de importados da China fez com que o Brasil regulamentasse salvaguardas para proteger a indústria nacional no fim do ano passado.

O Brasil continuou, em 2005, tendo superávit na balança comercial com a China. Mas o saldo caiu de US$1,729 bilhão em 2004 para US$1,480 bilhão. O Brasil compra basicamente manufaturados daquele país e vende produtos menos elaborados, entre os quais soja e minério de ferro.