Título: MISSÃO CUMPRIDA
Autor:
Fonte: O Globo, 15/03/2006, Opinião, p. 6

Aação do Exército em favelas cariocas foi uma missão bem cumprida. As armas apareceram e felizmente, para o tamanho da operação, não houve qualquer grande acidente ¿ a lamentar, um menino ferido por estilhaços, sem risco de vida, numa troca de tiros no Morro da Providência.

Os oficiais mudaram em boa hora a tática de ocupação e cerco para ações localizadas. Havia graves riscos em expor a tropa ¿ mesmo constituída de soldados profissionais ¿ a manifestações de moradores visivelmente orquestradas pelo tráfico. E principalmente não fazia e não faz sentido impor às comunidades períodos longos de um virtual toque de recolher, com todos os percalços decorrentes dessa situação para a grande maioria de pessoas honestas e pacatas que vivem nas favelas.

As operações deflagradas nesta nova etapa demonstraram que não houve recuo do Exército, como pôde parecer no domingo, quando os soldados desceram o Morro da Providência, onde ocorreu o maior confronto com o tráfico. Havia mandados de busca e apreensão, emitidos pela Justiça, a cumprir e, além isso, era, e continua sendo, imperioso demonstrar ao tráfico que mudou a postura das Forças Armadas diante da onda de assaltos a arsenais.

Se essa fonte de suprimento da bandidagem for eliminada, será importante avanço. É estarrecedor constatar que as quadrilhas ostentam de cima das lajes armas de igual ou maior poder de fogo que as dos soldados. Por trás dessa constatação há esquemas poderosos, com o envolvimento de maus policiais e militares, para facilitar a entrada no país de armas e munições e permitir desvios de paióis do Estado.

Este é um indicador de como essas quadrilhas se tornaram perigosas e puderam controlar áreas nas grandes cidades, em que o poder paralelo não é o do crime mas o do Estado brasileiro.

A mobilização do Exército é apenas proporcional à gravidade do quadro da segurança pública em importantes centros urbanos do país, em especial na região metropolitana do Rio. Desmoralizante teria sido continuar na passividade ¿ o que não deve ser entendido como defesa de uma reação ao crime a qualquer custo, à margem da lei e da Justiça.