Título: `OU VOCÊ ABRE CAMINHO OU VAMOS À CONSULTA INTERNA¿
Autor: Flávio Freire e Adauri Antunes Barbosa
Fonte: O Globo, 15/03/2006, O País, p. 6

Alckmin foi atrás de Serra para ter o que classificou de conversa mais decisiva de sua vida política. E venceu

SÃO PAULO. O governador Geraldo Alckmin acordou decidido a cobrar pessoalmente do prefeito José Serra uma posição. Depois de um café da manhã reforçado ao lado da mulher, dona Lu, e de dois dos três filhos, na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes, Alckmin começou o dia buscando informações sobre o encontro que Serra tivera com o comando do PSDB na noite anterior. Diante da certeza de que Serra ainda balançava em deixar ou não o cargo que assumiu há 14 meses, o governador marcou uma conversa para a hora do almoço com o colega tucano, de quem cobrou:

¿ Serra, ou você abre caminho para quem até anteontem era o único candidato explícito (no caso, ele próprio) ou vamos levar o meu e o seu nome para uma consulta interna. E agora? ¿ intimou o governador, segundo interlocutores, demonstrando pouca preocupação em assumir papel de intransigente.

Essa era a única saída do governador para que a decisão sobre a escolha não fosse adiada mais uma vez, como ontem pela manhã já era admitido pelo próprio presidente do partido, Tasso Jereissati, e pelo governador de Minas, Aécio Neves, ambos à frente da articulação política para a campanha à sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva. O adiamento era visto por Serra como uma chance de fortalecer seu nome depois da divulgação de que novas pesquisas de intenção de voto que devem ser divulgadas amanhã mostrariam uma recuperação sobre Lula.

Serra: desistência em nome da unidade do partido

A interlocutores, Alckmin admitiu ter sido essa uma das conversas mais decisivas em sua trajetória política. Conversou a sós com o prefeito, na sede da prefeitura, terreno cercado por serristas que até ontem à tarde não admitiam nem de longe a possibilidade de o prefeito jogar a toalha. Diante de um convicto governador, Serra não resistiu:

¿ Em nome da unidade partidária, eu vou abrir mão da candidatura e vou trabalhar a favor de sua campanha ¿ disse Serra, segundo amigos, procurando manter um clima cordial que não se repete nos bastidores tucanos há mais de dois meses.

Não faltou nesse período saia-justa entre eles. Como a vez em que Alckmin foi deixado numa churrascaria, durante homenagem do PSDB ao deputado Alberto Goldman. O triunvirato responsável pela escolha ¿ o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o presidente do partido, Tasso Jereissati, e o governador de Minas, Aécio Neves ¿ deixou o local às escondidas para um encontro com Serra num restaurante de luxo.

Antes do encontro com Alckmin ontem, Serra tentou tornar secreto um jantar com o comando do partido. Na suíte ocupada por Tasso no hotel Blue Tree Towers, Zona Sul de São Paulo, o prefeito passou cinco horas argumentando com Fernando Henrique e Aécio Neves sobre suas chances de derrotar Lula nas eleições de outubro.

Serra passou a noite de anteontem e parte da madrugada de ontem reafirmando ao triunvirato tucano seu potencial de crescimento nas pesquisas. Ao mesmo tempo, tinha dificuldades para argumentar contra o triunvirato: como aclamá-lo depois de tanta resistência e com um partido dividido?

Serra contra-argumentava. A preferência em torno de seu nome, lembrava ele, sempre foi natural dentro do partido até mesmo entre os que consideravam um novo embate Serra-Lula como o terceiro turno das eleições de 2002.

Serra, Fernando Henrique e Aécio deixaram o hotel por volta das 1h30m de ontem. A contragosto, disseram que todas as informações sobre o nome do presidenciável tucano seriam comunicadas por Tasso ainda ontem. Cada um entrou no seu carro e deixou o hotel no Brooklyn com a certeza de que a tarefa partidária ainda não havia terminado.

Depois de passar parte da manhã e da tarde apreensivo com a conversa que ocorreria durante o dia entre Serra e Alckmin, o comando do PSDB não hesitou em comunicar ao partido a indicação do governador como candidato oficial. Antes da conversa decisiva entre Serra e Alckmin, a incerteza sobre a forma como o candidato seria escolhido pairava. Aécio chegou a admitir a possibilidade de que o nome dos dois seria levado ao Diretório Nacional, com 213 membros, que faria a escolha.

¿ Ambos aceitaram o forum do Diretório Nacional como instrumento dessa decisão ¿ disse Aécio, que momentos depois foi atropelado pela reunião de Serra e Alckmin, em que o prefeito jogou a toalha.

Tasso diz que Serra não está descartado para o governo

Ainda não há definição sobre quem será o candidato do PSDB ao governo de São Paulo.

¿ Serra não está descartado, não. É uma discussão que vai ficar para um segundo momento. Não ficou condicionada nesta discussão. A cada dia a sua agonia ¿ disse Tasso.