Título: DE PINDAMONHANGABA PARA TENTAR O PLANALTO
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 15/03/2006, O País, p. 8

Chamado de picolé de chuchu, tucano é determinado também para evitar CPIs na assembléia

SÃO PAULO. O estilo caipira e simplório do governador Geraldo Alckmin, de 53 anos, camuflou uma determinação que surpreendeu o próprio PSDB na disputa que travou com o prefeito José Serra. Mas agora, vencida a batalha, além de ter que se projetar nacionalmente Alckmin se articula para nova luta: conquistar o real apoio dos serristas.

Alckmin sabe que precisará do apoio do triunvirato que comanda o PSDB ¿ formado pelo presidente do partido, Tasso Jereissati, o ex-presidente Fernando Henrique e o governador de Minas, Aécio Neves ¿ para ganhar Serra e crescer nacionalmente. Por isso, pretende ampliar rapidamente seu próprio triunvirato, que comanda sua campanha: o secretário de Ciência e Tecnologia, João Carlos Meireles, e os deputados Sílvio Torres e Edson Aparecido.

Alckmin teve bom humor para usar o apelido ¿picolé de chuchu¿ a seu favor. Tem afirmado que, com ele,¿o Brasil vai crescer pra chuchu¿. O ex-prefeito Paulo Maluf foi mais longe: ¿picolé de chuchu light¿. Mas outros rivais acham que de insosso e light ele não tem nada:

¿ Na tradição barroca do Vale do Paraíba, onde nasceu, Alckmin está mais para santinho do pau oco. Ao contrário do que aparenta, não dialoga, não media, só disfarça. No fundo, tensiona, leva tudo ao limite ¿ diz o líder do PT na Assembléia, Renato Simões.

Na Assembléia, Alckmin tem atualmente 69 pedidos de CPIs engavetados, a maioria com suspeitas de irregularidades financeiras. Nenhuma investigação em curso. Com o apoio de pelo menos 40 deputados, tem 24 na oposição e outros 25 flutuantes. Segundo o líder petista, Alckmin controla a Casa com punhos de ferro, por isso é blindado. Quem diverge do PSDB é retaliado.

Não é o que dizem os alckmistas. Segundo o ex-secretário de comunicação e atual assessor direto, Luiz Salgado Ribeiro, o PT ¿procura pêlo em ovo¿.

¿ Não tem blindagem nenhuma. Tanto que Alckmin perdeu a presidência da Assembléia para o PFL. Desde então, conquista apoios em torno de projetos ¿ afirma Ribeiro.

Outra crítica que tem pesado sobre Alckmin diz respeito a sua suposta participação na Opus Dei, ordem ultraconservadora ligada à Igreja Católica, mas ele nega. O governador costuma receber o sacerdote do Opus Dei José Teixeira, que foi seu confessor e um influente numerário da ordem, o jornalista Carlos Alberto Di Franco, no Palácio dos Bandeirantes. Alckmin e um grupo de empresários, advogados e juristas recebem preleções de cerca de 30 minutos sobre virtudes cristãs, seguidas de uma troca de impressões. O encontro periódico, realizado à noite, começou numa sala reservada do palácio e depois foi transferido para a ala residencial, segundo a revista.

O assessor de Alckmin alega que ele gosta muito de religiões e demonstra interesse por muitas. Mas, na realidade, o governador seria mais ligado à ordem franciscana, como foi seu pai.

¿ Ele tem amigos na Opus Dei, mas não é um militante. Ele vai a sinagogas, a mesquitas, se interessa por religiões, tem uma visão espiritualista ¿ afirma.

Além da religiosidade, Alckmin se interessa por política desde os tempos do ¿Manda Brasa¿, como chamava o antigo MDB. Médico, nunca exerceu a profissão. Aos 19 anos, foi o vereador mais votado de Pindamonhangaba. Em 1982 foi deputado estadual e quatro anos depois, foi eleito deputado federal pelo PMDB e logo depois tornou-se um dos fundadores do PSDB.

Em 1990, o governador foi o quarto deputado federal mais votado pelo PSDB paulista e em 1994, foi eleito vice de Mario Covas. Em 2000, foi o candidato tucano à prefeitura de São Paulo. Derrotado, em 2001 assumiu o governo no lugar de Covas quando este morreu, vítima de câncer . Nas eleições de 2002, foi reeleito com 58,64% dos votos (cerca de 12 milhões), no segundo turno, contra o petista José Genoino. Os políticos mais citados por Alckmin não são Fernando Henrique nem Tasso Jereissati. Alckmin sempre tratou Mario Covas como seu ¿grande comandante¿.