Título: MINISTRO NEGA IDA À CASA E DIZ QUE FICA NO CARGO
Autor: Alan Gripp e Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 15/03/2006, O País, p. 10

Em sua defesa, Palocci afirma ainda que nunca dirigiu em Brasília, como afirmou o caseiro

BRASÍLIA.O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse ontem que as denúncias são falsas e fazem parte do clima eleitoral, que traz à tona assuntos do passado. Ele afirmou que não vai deixar o governo para participar da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

¿ A retomada de questões já passadas diz respeito ao clima eleitoral. Esse clima vai trazer certamente um calor maior ao debate político e a esse nível de acusações ¿ disse o ministro sobre as denúncias de que freqüentava a mansão usada para distribuir dinheiro entre integrantes da República de Ribeirão Preto.

Palocci decidiu se defender numa teleconferência da consultoria Tendências. Os jornalistas não puderam fazer perguntas. Ele disse que conversou com Lula sobre o problema ontem e recebeu como conselho ficar com a cabeça fria. O ministro também voltou a dizer que não deixará o Ministério da Fazenda para coordenar a campanha de Lula à reeleição:

¿ O presidente Lula me disse: ¿Olha, agora começa a campanha e a tendência é que haja um período mais caloroso no debate político¿. Ele me sugeriu que tenha a cabeça fria. Então eu vou trabalhar para que a minha cabeça esteja sempre fria e voltada para o foco do meu trabalho. Quando for necessário dar esclarecimentos sobre essas questões, vou fazê-lo de maneira muito clara e transparente.

Mas Palocci não falou diretamente sobre a denúncia de que seu assessor Ademirson Ariosvaldo da Silva teria recebido um envelope de dinheiro no estacionamento do Ministério da Fazenda.

¿Quero até ressaltar que eu nunca guiei aqui em Brasília¿

O ministro disse que já se defendeu de denúncias na CPI dos Bingos e que não sabe a motivação das novas acusações. Ele também contestou as afirmações do caseiro da mansão Francenildo Santos Costa de que chegava ao local quase sempre sozinho e dirigindo um Peugeot prata. Ainda segundo o caseiro, o ministro chegava à noite e pedia que as luzes do portão ficassem apagadas para que ninguém o visse.

¿ Na semana passada e hoje, houve pessoas que, não sei movidas por qual sentimento ou por qual interesse, disseram que a minha informação sobre a presença naquela residência que foi alugada por ex-assessores de Ribeirão Preto, não era correta. Aquele motorista que esteve na comissão na semana passada disse que tinha me visto duas ou três vezes durante o dia lá. Hoje, num dos jornais, vemos que o caseiro da casa disse que não me viu de dia, me viu de noite dez vezes, que eu cheguei lá guiando um carro que não é meu... eu quero até ressaltar que eu nunca guiei aqui em Brasília. Ou eu estou com o carro oficial ou com o carro da minha esposa, que guia. Isso, de forma bastante singela, mostra que a informação não é correta.

O Ministério da Fazenda também não comentou a afirmação de Francenildo, que teria visto Ademirson recebendo um envelope com dinheiro. O assessor não foi trabalhar ontem.

No ministério, clima de pessimismo na reunião

Os funcionários do ministério tentaram manter o clima de tranqüilidade, mas o pessimismo foi visível. De manhã, na reunião que ocorre toda terça-feira entre os secretários da pasta, ¿o ambiente não estava nada bom¿, segundo um membro da equipe econômica. Entre os participantes da reunião estavam o secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal, o secretário de Política Econômica, Bernard Appy, além de representantes do Tesouro Nacional e da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional.

¿ Ninguém comentou nada abertamente, mas o ambiente mostrava um desânimo geral ¿ disse o funcionário.