Título: Caseiro complica ainda mais situação de Palocci
Autor: Alan Gripp e Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 15/03/2006, O País, p. 10

Francenildo Costa diz que ministro freqüentava mansão em Brasília na qual seus ex-assessores repartiam propina

BRASÍLIA. Revelações feitas por um caseiro de Brasília voltaram a contradizer o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e caíram ontem como uma bomba no Congresso. Francenildo Santos Costa, que trabalhou na luxuosa casa mantida em Brasília por ex-assessores do ministro na Prefeitura de Ribeirão Preto, disse em entrevista ao jornal ¿O Estado de S.Paulo¿ que o imóvel era usado para partilha de dinheiro e que Palocci era freqüentador assíduo da casa, onde todos o chamavam de chefe. O ministro voltou a dizer que nunca esteve na casa.

As informações provocaram reação imediata. Nildo, como é conhecido o caseiro, foi intimado pela Polícia Federal e prestará depoimento hoje, às 10h. A CPI dos Bingos também quer ouvi-lo: seu presidente, senador Efraim Morais (PFL-PB), disse que a comissão votará hoje a convocação. Se aprovada, ele será ouvido amanhã. A volta do ministro à CPI vai depender destes dois depoimentos.

¿ Nossa prioridade número um é o caseiro. Se ele confirmar tudo, o ministro fica em posição delicada ¿ disse Efraim.

Na entrevista, o caseiro contou que Palocci esteve na casa ¿umas dez ou 20 vezes¿. Nildo foi a segunda testemunha a apresentar versão diferente da de Palocci. Semana passada, o motorista que prestava serviço para a República de Ribeirão Preto dissera ter visto o ministro no imóvel ¿duas ou três vezes¿. Na versão do caseiro, Palocci chegava à casa quase sempre sozinho, dirigindo um Peugeot prata que pertencia a Ralf Barquete, ex-secretário de Fazenda de Ribeirão Preto.

Nildo também disse que viu ¿pacotes de R$100 e R$50¿ na mala de Vladimir Poleto, também ex-funcionário da prefeitura, acusado de transportar dólares vindos de Cuba para a campanha do PT, em 2002. Foi ele quem alugou a casa em 2003. O imóvel fica no Lago Sul, e seu aluguel por seis meses foi pago em dinheiro: R$60 mil.

¿Qual o tamanho da mentira? Perdeu-se o limite¿

A reação da oposição foi dura. Alguns parlamentares, como o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), defenderam a volta de Palocci à CPI:

¿ Para preservar a dignidade do cargo e a sua dignidade pessoal, ele precisa pedir voluntariamente para voltar à CPI. Do contrário, o governo estará com sua coluna vertebral partida.

Para o senador José Jorge (PFL-PE), que integra a CPI dos Bingos, a situação de Palocci está a cada dia mais complicada. Ele chamou os ex-assessores do ministro de ¿quadrilha de Ribeirão Preto¿:

¿ As denúncias são gravíssimas. A situação do ministro é insustentável.

Os governistas foram à tribuna do Senado defender Palocci. Tião Viana (PT-AC), vice-líder do partido, afirmou não ver necessidade de um novo depoimento do ministro. Ele classificou a entrevista como mentirosa e insinuou que integrantes da oposição orientaram o caseiro:

¿ Qual o tamanho da mentira? Perdeu-se o limite. Temos que ter responsabilidade política. Não podemos nos render às mentiras ditas por uma pessoa. Trata-se de fofoca.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) disse que Palocci sempre se comportou de maneira correta, mas disse que o ministro precisa dar um ¿esclarecimento completo¿ do caso.

Na avaliação da oposição, a entrevista do caseiro também deixa em posição delicada o assessor especial de Palocci, Ademirson Ariovaldo da Silva. Nildo contou que, em uma ocasião, ele foi com o motorista ao Ministério da Fazenda para entregar um envelope contendo dinheiro para Ademirson. A quantia teria sido enviada por Poleto.