Título: PERITOS VÊEM FRAUDE NA LISTA DO CAIXA 2 DE FURNAS
Autor: Bernardo de La Pena e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 15/03/2006, O País, p. 14

Laudo do Instituto Nacional de Criminalística diz, porém, que é preciso analisar original, não a cópia

BRASÍLIA. Peritos do Instituto Nacional de Criminalística (INC) detectaram indícios de fraude na cópia da lista sobre o suposto caixa dois de Furnas Centrais Elétricas apresentada à Polícia Federal pelo lobista Nilton Monteiro. Mas no laudo sobre a lista, concluído ontem, os peritos sustentam que o resultado não é definitivo. Eles argumentam que só poderiam ser conclusivos se tivessem analisado o documento original e não a cópia. Monteiro prometeu entregar o original, mas ainda não cumpriu a promessa.

O resultado do laudo era uma das informações mais aguardadas pela oposição nas últimas semanas. Em depoimento à PF, Nilton Monteiro disse que na lista estavam nomes de políticos beneficiários de um caixa dois supostamente formado com propina paga por fornecedores de Furnas.

Conclusão de peritos não encerra investigação

A maioria dos indicados na lista era de políticos do PSDB. O caixa dois seria operado, segundo Monteiro, pelo ex-diretor de Planejamento de Furnas Dimas Toledo, apontado pelo lobista como autor da lista.

A análise dos peritos tira parte do fôlego, mas não encerra as investigações sobre o suposto desvio de recursos públicos em Furnas. Desde o início, delegados da PF têm dito que a autenticidade da lista não seria uma peça decisiva ao longo da apuração das denúncias.

¿ O mais importante é saber se, de fato, foram cometidas irregularidades em Furnas. E as investigações estão avançando nesse sentido ¿ disse um dos responsáveis pelo caso.

Na semana passada, a PF apreendeu documentos e computadores em escritórios da estatal. Uma equipe de auditores da Controladoria Geral da União também está fazendo uma devassa nos contratos de Furnas com prestadores de serviços, principalmente nos negócios da estatal com empresas de consultoria, empreiteiras e agências de publicidade. Estão sob investigação também pelo menos três empresas ligadas a familiares de Dimas Toledo que prestaram algum tipo de serviço à estatal.

Numa entrevista ao GLOBO, no mês passado, o subcontrolador-geral da União, Jorge Hage, disse que, na fase preliminar da auditoria, os fiscais identificaram dados convergentes com as denúncias de Monteiro. As primeiras denúncias sobre fraudes em Furnas foram feitas pelo ex-deputado Roberto Jefferson logo na primeira fase do escândalo do mensalão. No início do mês passado, depois de prestar depoimento à PF, Jefferson disse que recebeu R$70 mil do suposto caixa dois de Furnas, conforme constava na lista de Nilton Monteiro.