Título: Exército ocupa favela em Magalhães Bastos
Autor: Daniel Engelbrecht
Fonte: O Globo, 15/03/2006, Rio, p. 18

Trezentos soldados participam de operação no Curral das Éguas com apoio de policiais civis e 6 veículos blindados

Com um grande aparato militar, que incluiu seis blindados e um helicóptero, cerca de 300 homens do 1º Batalhão de Infantaria Motorizada passaram a manhã e o início da tarde de ontem na favela Curral das Éguas, em Magalhães Bastos, procurando as 11 armas roubadas do Estabelecimento Central de Transporte (ECT), em São Cristóvão, há 13 dias. Os militares cumpriram quatro mandados de busca e apreensão, mas só encontraram material de embalar drogas e algumas poucas balas de fuzil de calibre diferente do das armas roubadas. Os soldados vigiaram todas as entradas da favela e atiradores de elite tomaram posição no teto de um Ciep. Não houve confronto.

As tropas começaram a entrar na favela, que fica próxima da Vila Militar, por volta das 8h, com apoio de dez policiais civis da 33ª DP (Realengo). Além dos seis blindados M-113 armados com metralhadoras MAG, que ficaram em pontos estratégicos, e de um helicóptero, foram usados dez caminhões, oito jipes e uma ambulância. Os soldados ocuparam uma passarela que passa sobre a linha do trem e atiradores de elite ficaram posicionados no teto do Ciep Oswaldo Aranha, o ponto mais alto da comunidade. Apesar da movimentação, as aulas não foram paralisadas.

Tropas não enfrentam reação na favela

Ao contrário do que vem acontecendo em outras comunidades, não houve reação de traficantes ou de moradores. Em vez disso, algumas pessoas até pararam para conversar com os soldados, inclusive crianças. Folhetos orientando a população a denunciar o esconderijo das armas roubadas e com o número do Disque-Denúncia foram distribuídos e aceitos pelas pessoas.

Segundo o comandante do batalhão, tenente-coronel Marcos Tadeu Barros de Oliveira, a ocupação foi motivada por indícios colhidos pelo setor de inteligência do Exército de que os dez fuzis e a pistola roubados do ECT estariam escondidos na favela, que é controlada pelo traficante Celsinho da Vila Vintém. Os quatro mandados, no entanto, foram cumpridos e o armamento não foi achado. Escondidas em tijolos num muro, os soldados apreenderam embalagens de drogas e balas de calibre 5,56.

Traficantes vigiam os soldados de longe

Segundo policiais civis que participaram da operação, a favela Curral das Éguas funciona como uma extensão do tráfico da Vila Vintém, distante cerca de três quilômetros. A quadrilha no local, por esse motivo, teria pouco armamento. O tenente-coronel confirmou, no entanto, que os bandidos usam fuzis.

¿ Já foram observados esse ano meliantes circulando com fuzis em motos e no alto de lajes, a partir da torre de observação da Companhia de Polícia do Exército, que fica próxima ¿ disse o tenente-coronel Marcos.

Enquanto circulavam pela favela, os militares eram observados de longe por traficantes do vizinho Morro do Batã, controlado pela mesma facção. Eles falavam pelo rádio sobre os passos das tropas. Três bandidos podiam ser vistos no alto de uma colina, vizinha à favela. Os soldados também tentaram tirar uma barricada feita com troncos num dos acessos, mas não conseguiram devido ao peso. Por volta das 13h, as tropas se retiraram, sob observação e correria de muitas crianças, voltando para o quartel na Vila Militar.

Os soldados do Batalhão de Infantaria Motorizada, alguns com passagem pela Força de Paz da ONU no Haiti, participaram na semana passada da ocupação de Manguinhos, onde chegaram a trocar tiros com os traficantes na favela.