Título: GOVERNO USA INSTRUMENTO BUROCRÁTICO PARA CONTROLAR EXPORTAÇÕES DE ÁLCOOL
Autor: Eliane Oliveira e Ronaldo D'Ercole
Fonte: O Globo, 15/03/2006, Economia, p. 26

Medida, que atrasa vendas ao exterior, visa a combater a alta dos preços

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O governo vem adotando desde o fim de fevereiro, com toda a discrição, uma ferramenta burocrática para segurar e desestimular as exportações de álcool combustível e mostrar poder de fogo aos usineiros. Para isso, estabeleceu um forte controle do processo de desembaraço do produto para o exterior. A demora na liberação das operações pelo Ministério do Desenvolvimento faz parte de um conjunto de medidas tomadas para aumentar a oferta do combustível no mercado interno.

O jeito burocrático de agir frente aos pedidos de exportação de álcool foi motivado pelo crescimento das vendas externas do produto. O valor exportado saltou de US$63 milhões no primeiro bimestre de 2005 para US$102 milhões nos dois primeiros meses de 2006.

Segundo técnicos do Ministério do Desenvolvimento, a medida foi comunicada aos usineiros no dia 22 de fevereiro, quando eles foram convocados para uma reunião na Casa Civil, da qual participaram a titular da pasta, Dilma Rousseff, e seus colegas da Fazenda (Antonio Palocci), da Agricultura (Roberto Rodrigues) e de Minas e Energia (Silas Rondeau).

Naquele dia foram anunciadas duas medidas, que já foram adotadas: a queda de 25% para 20% da mistura de álcool anidro à gasolina e a redução, de 20% para zero, do Imposto de Importação de álcool.

Recuo do consumo reduz risco de desabastecimento

Partiu de Palocci, com apoio de Dilma Rousseff, a idéia de segurar as exportações, como uma espécie de intervenção branca. Seria uma forma de combater os reajustes no preço do combustível e evitar que haja desabastecimento no mercado interno, sem alterar regras de comércio internacional.

Em São Paulo, a retração no consumo na primeira quinzena de março foi recebida com alívio pela Unica, entidade que representa as usinas paulistas. A entidade disse ontem que desde a semana passada a procura por álcool pelas distribuidoras nas usinas caiu, devido à queda nas vendas nos postos.

A estimativa é de que o recuo dos consumidores diante dos preços muito altos do álcool gere uma redução de até 150 milhões de litros no consumo mensal nos próximos dois meses. Segundo o setor, os estoques disponíveis de álcool durariam até a primeira quinzena de abril. Como a maioria das usinas só iniciará a safra no fim de abril, havia o risco real de desabastecimento de álcool no fim daquele mês.