Título: APÓS CONSUMO, MAIS CARIOCAS CORTAM GASTOS PARA TENTAR EQUILIBRAR CONTAS
Autor: Mariza Louven e Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 15/03/2006, Economia, p. 26

Fecomércio-RJ: 45,5% das famílias endividadas diminuíram consumo

RIO e SÃO PAULO. Neste início de ano, o carioca está cortando gastos para equilibrar suas contas. De acordo com a Pesquisa Econômica do Consumidor (PEC), divulgada ontem pelo Instituto Fecomércio-RJ, passou de 32,5%, em fevereiro de 2005, para 45,5%, no mês passado, a proporção de pessoas que deixaram de consumir algum bem porque estavam com as contas desequilibradas. Na véspera, uma pesquisa da consultoria LatinPanel, de São Paulo, mostrava que, em 2005, o consumidor brasileiro vinha se endividando para comprar mais.

¿ O consumidor está mais maduro. Aprendeu a gerenciar melhor a sua renda ¿ analisou a diretora do Instituto Fecomércio-RJ, Clarice Messer.

A pesquisa feita de 14 a 17 de fevereiro, com 3.141 consumidores da região metropolitana, revelou queda de 50,2%, em janeiro, para 45,6%, em fevereiro, do total de famílias com orçamento equilibrado. Entre as que saíram dessa faixa, parte foi para o grupo das que tiveram sobras e parte para o das deficitárias: de um mês para o outro, passaram de 25,8% para 27,6% as que, após pagar as contas, ainda ficaram com dinheiro; e de 24% para 26,8% as que não tiveram o suficiente para saldar suas contas.

Não só os consumidores no vermelho foram mais cautelosos. Entre os que tiveram sobras, aumentou de 25,5% para 47,4% a opção por guardar dinheiro para alguma eventualidade, e caíram de 34% para 26,9% os gastos com lazer.

Já a inadimplência continuou aumentando. O total de famílias com parcelas em atraso passou de 14,7% em fevereiro de 2005 para 18,1% no mesmo mês deste ano.

¿ A inadimplência cresceu, mas não está em níveis alarmantes e nem representa o fim do ciclo de expansão do crédito, que vai continuar crescendo significativamente este ano, ainda que em ritmo mais brando do que o de 2005 ¿ afirmou Messer.

Em março, endividamento caiu em São Paulo

No geral, entretanto, as expectativas são positivas: o Índice de Expectativa do Consumidor (IEC) de fevereiro foi o melhor, neste mesmo mês, desde que a série começou, em 2001: atingiu 108,6, acima da linha de otimismo de 100 e dos 105,6 do mesmo mês de 2005. Segundo Messer, isso aconteceu devido às perspectivas positivas de continuidade de queda da inflação e dos juros, do reajuste do salário-mínimo previsto para vigorar a partir de abril, e da correção da tabela do Imposto de Renda.

Já na região metropolitana de São Paulo, o nível de endividamento do consumidor caiu para 64% em março, três pontos percentuais a menos do que em fevereiro, mas houve uma piora nos índices de inadimplência. Segundo a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), entre os consumidores que assumiram dívida no cheque especial, no cartão de crédito ou no crediário das lojas, 42% não conseguiram saldar em dia suas prestações, contra 38% em fevereiro.

Como reflexo do aumento da inadimplência, caiu o percentual dos que declararam a intenção de quitar total ou parcialmente os débitos em atraso ¿ de 80% para 78%. Se fossem obrigados a isso, 21% disseram que não teriam condições financeiras, acima dos 17% apurados em fevereiro.

¿ Outro dado relevante foi o do comprometimento da renda dos consumidores endividados, que passou de 33% para 35% ¿ disse o presidente da Fecomércio-SP, Abram Szajman.

O aumento da inadimplência é resultado, principalmente, do acúmulo de pagamentos no início do ano (com impostos como IPVA e IPTU, matrículas escolares etc).