Título: BRASIL E CHINA SE ENFRENTAM POR PREÇO DO AÇO
Autor: Elianme Oliveira e Gilberto S
Fonte: O Globo, 15/03/2006, Economia, p. 27

Governo chinês interfere no reajuste do produto fornecido por empresas brasileiras e briga pode parar na OMC

BRASÍLIA e PEQUIM. A interferência direta do governo chinês nas negociações de preços entre os importadores daquele país e três empresas exportadoras de minério de ferro ¿ a Vale do Rio Doce e as australianas Rio Tinto e BHP Billiton ¿ irritou as autoridades brasileiras. O Itamaraty já cogita a possibilidade de entrar com uma ação contra a China na Organização Mundial do Comércio (OMC).

O Ministério do Comércio da China anunciou em seu site na internet ¿medidas técnicas temporárias¿ para forçar os principais fornecedores de minério de ferro ao país, as três empresas, a manter os preços da matéria-prima sem aumentos nas negociações dos contratos de entrega do metal para este ano. O ministério estabeleceu limites para as importações chinesas em quantidades, preço e até origem (Brasil e Austrália) do minério, sem fornecer mais detalhes.

Aumento no ano passado chegou a 71%

De acordo com uma fonte do Itamaraty, essa prática vai contra as normas da OMC, organismo ao qual a China está associada desde 2001. A embaixada do Brasil em Pequim foi instruída a procurar autoridades daquele país e recolher informações. No caso de uma ação na OMC, se for comprovada a culpa da China, a Vale do Rio Doce ¿ que buscou ajuda do Itamaraty ¿ poderá ser compensada por eventuais prejuízos que venha a ter na negociação com os importadores.

A área econômica do governo brasileiro está acompanhando atentamente a negociação. Segundo um técnico, porém, não se pode desprezar um dos argumentos da China para que não seja feito reajuste do minério de ferro: o preço do aço caiu entre 10% e 15% no mercado internacional, o que não justificaria um encarecimento do minério, tal como foi feito no ano passado. Em 2005, as mineradoras aumentaram o valor do produto em 71%, aproveitando-se do desequilíbrio entre a oferta e a demanda, o que facilitou a imposição do preço novo.

China responde por 43% das compras de aço no mundo

Segundo empresas de exportação ouvidas pelos jornais chineses, os preços do minério comprado da Austrália foram limitados em US$54 por tonelada, enquanto os do Brasil ficaram em US$70 por tonelada. O governo chinês acusa ainda as empresas, que respondem por 60% do minério importado pela China, de violarem as práticas de mercado.

Principal mercado comprador do minério de ferro brasileiro, a China importou, em 2005, US$1,718 bilhão do produto, 60,06% a mais do que em 2004. Sua importância como garantia certa de divisas na balança comercial brasileira não amedronta o governo, garantiu um técnico do Ministério do Desenvolvimento. O China responde por 43% das compras mundiais de minério de ferro.

(*) Correspondente