Título: NAVIOS CUSTAM 40% A 50% MAIS NO BRASIL
Autor: Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 15/03/2006, Economia, p. 29

Transpetro convoca estaleiros instalados no país para negociar redução de preços nas propostas feitas ontem

RIO e BUENOS AIRES. Os estaleiros e consórcios instalados no país que participam da licitação aberta pela Transpetro ¿ subsidiária da Petrobras ¿ para a construção de 26 navios petroleiros apresentaram preços básicos (sem adicionais como motor de propulsão com injeção eletrônica e sistema integrado de automação) cerca de 40% acima dos valores internacionais, chegando em alguns casos a 50%. A informação foi dada ontem pelo presidente da Transpetro, Sérgio Machado, após a sessão pública na qual foram abertos os envelopes de preços. A Transpetro vai chamar os participantes para negociar uma redução nos preços.

Segundo Machado, a Transpetro tem um estudo completo dos preços nacionais e internacionais e dos custos dos adicionais pedidos pela estatal:

¿ Estamos preparados para a discussão. Temos todos os dados e custos dos gargalos do setor. Tenho convicção de que até fim de abril anunciaremos os vencedores.

A Transpetro quer capacitar a indústria nacional para competir no exterior e está disposta a pagar pelos primeiros navios um preço um pouco acima dos cobrados lá fora, mas não muito. A única proposta feita em 2005 para quatro navios de produtos, pelo Mauá-Jurong, já mostrava preços 100% acima dos internacionais. A negociação com o estaleiro começou sexta-feira.

O estaleiro virtual ¿ chamado assim porque ainda não tem instalações ¿ em Pernambuco do consórcio liderado por Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez fez proposta ontem para construir dez navios Suezmax, os de maior valor. Enquanto o preço básico no exterior é de US$80 milhões, o consórcio pediu US$112 milhões ¿ caso as siderúrgicas Usiminas e Cosipa cobrem pelo aço os preços internacionais. Para o navio com os adicionais solicitados, o consórcio propôs US$121 milhões, também considerando os preços do aço internacional.

O consórcio Rio Naval, do Rio, também disputa os dez Suezmax, para os quais ofereceu US$138,8 milhões já incluídos os adicionais. A Transpetro não divulgou os preços desses navios com adicionais no exterior, mas Machado garantiu que tem todos os dados para discutir com os estaleiros.

Para os cinco navios Aframax estão concorrendo esses dois consórcios. O preço básico no exterior é de US$70 milhões. O consórcio da Camargo Corrêa pediu US$98,4 milhões e o Rio Naval, R$112 milhões. O Rio Naval concorre ainda à construção de quatro Panamax e o estaleiro Itajaí, de Santa Catarina, a três navios de GLP. Os preços apresentados por esses dois grupos estão cerca de 50% maiores do que os estrangeiros.

O Secretário estadual de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio, Wagner Victer, disse que a licitação está beneficiando o estaleiro virtual da Camargo Corrêa, com a desclassificação de quatro estaleiros fluminenses ao longo do processo.

A indústria naval brasileira conta ainda com a encomenda de 36 navios da estatal venezuelana PDVSA, mas a reunião marcada para ontem foi adiada. Fontes do governo venezuelano asseguraram ao GLOBO que ¿está de pé a decisão¿ da PDVSA e que a reunião entre o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e os estaleiros brasileiros ¿foi cancelada por problemas de agenda, mas nada indica que a decisão tenha sido modificada¿.

COLABOROU Janaína Figueiredo