Título: CHIRAC INTERVÉM MAS PROTESTOS CONTINUAM
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Fonte: O Globo, 15/03/2006, O Mundo, p. 34

Milhares de estudantes paralisam 52 das 84 universidades do país. Prejuízos na Sorbonne podem chegar a 1 milhão

PARIS. O presidente Jacques Chirac rompeu ontem o silêncio em relação aos repetidos protestos em universidades do país e manifestou apoio ¿total e sem reservas¿ ao primeiro-ministro Dominique de Villepin, cujo plano para empregar jovens enfureceu os estudantes. Mas dezenas de milhares de jovens voltaram a se manifestar no país e muitos entraram em confronto com tropas de choque. Na capital, a Universidade de Sorbonne disse que seus prejuízos com os protestos estão entre 500 mil (R$1,2 milhão) e 1 milhão (R$2,5 milhões).

Segundo a União Nacional dos Estudantes, principal sindicato estudantil, os protestos paralisam 52 das 84 universidades francesas. Mas o Ministério da Educação considerou que 17 estão bloqueadas e outras 28 sofrem distúrbios.

Os estudantes protestam contra o plano chamado Contrato de Primeiro Emprego (CPE), que permite a demissão de menores de 26 anos durante os dois primeiros anos de trabalho. Para Chirac, o plano representa ¿um elemento importante¿ para combater o desemprego entre jovens.

¿ Apóio totalmente e sem reservas as atividades conduzidas pelo primeiro-ministro e o governo francês ¿ disse o presidente, em visita a Berlim.

Mas suas palavras não surtiram efeito: novas manifestações estão marcadas para amanhã e sábado.

¿ Villepin precisa reconhecer seu erro e retomar as negociações ¿ disse em Paris Antoine Troussier, de 18 anos.

Estudantes enfrentam policiais na Sorbonne

Berço da revolta estudantil que sacudiu o país em 1968, a Sorbonne permanece fechada e cercada pela polícia. Mais de mil de jovens se manifestaram diante de policiais armados de escudos e cacetetes. A maioria se dispersou, mas cerca de cem enfrentaram a polícia. Muitos arrancaram pedras do calçamento da praça da universidade e as atiraram em policiais, que reagiram lançando bombas de gás lacrimogêneo. Segundo fontes da polícia, seis agentes ficaram feridos e sete manifestantes foram detidos.

A Sorbonne informou que seu sistema contra incêndios ¿ que cobre uma superfície de cem mil metros quadrados ¿ sofreu graves danos e apresentou uma denúncia de destruição de bens públicos, depois de a polícia afastar manifestantes à força.

Em Lille, um protesto reuniu 4.500 pessoas; em Rennes, 4.500, e em Clermont-Ferrand, mais de mil. Em Paris, cerca de 50 estudantes bloquearam uma saída de trens na estação de Montparnasse. Uma ação semelhante aconteceu em Nantes.

Os protestos representam o maior teste para Villepin em dez meses de governo, e levantam suspeitas sobre o futuro político daquele que vinha sendo considerado um possível sucessor de Chirac nas eleições do ano que vem.

Estudantes, líderes sindicais e políticos de oposição afirmam que o CPE torna mais fácil demitir jovens trabalhadores, mas o premier argumenta que o plano incentivará empresas a contratar jovens e ajudará a combater o índice de desemprego entre os jovens, de 23%. Sua recusa a fazer concessões ao plano desagrada a ministros importantes e mina apoio de deputados ao governo.

Com o El Pais