Título: As fichas, senhores
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 16/03/2006, O País, p. 2

As fichas, senhores

Os números da pesquisa CNI-Ibope têm sua importância nominal mas valem sobretudo pelo momento de sua divulgação. A continuada melhora nas intenções de voto no presidente Lula em contraste com os índices do tucano Geraldo Alckmin fragilizam sua candidatura na largada, elevando o valor do apoio do PFL, que saboreou discretamente a pesquisa.

O novo avanço de Lula surtiu efeitos também sobre o PMDB, que ontem viveu um dia de caneladas no jogo bruto pelo adiamento das prévias de domingo. Elas vão acontecer, mas o vencedor terá que ser confirmado por uma convenção a ser realizada depois do julgamento do STF sobre a verticalização. Pode ganhar mas não levar.

Ao saberem que os adversários das prévias (governistas e oposicionistas preocupados com as conseqüências locais da verticalização) conseguiram as nove assinaturas para reunir a executiva e adiar as prévias, os pré-candidatos Germano Rigotto e Garotinho desembarcaram revoltados em Brasília. Apoiados por Michel Temer, presidente do partido, ameaçaram ir à Justiça alegar que só uma convenção pode adiar as prévias marcadas por uma outra, não pela executiva. Este é um velho filme peemedebista: disputas que terminam em guerras de liminares e puxadas de tapete. Com Lula em alta, os que não querem a candidatura própria, por lulismo ou por regionalismo, ganham fôlego. E, sem candidatura peemedebista, tucanos e petistas admitem que a parada pode ser decidida no primeiro turno.

Quanto à pesquisa em si, deve ser lida levando em conta que o crescimento de Lula tem como base uma pesquisa de dezembro, da mesma série. E como naquele mês Lula ainda estava no fundo do poço, o salto parece mais eloqüente do que de fato é. Mais importante é a indicação de que de seu desempenho como presidente agora é aprovado por 55% dos entrevistados, contra 42% em dezembro. Ou o fato de sua recuperação ter se dado de forma mais homogênea. Cresceu em todas as regiões e classes de renda e faixas etárias, inclusive entre os jovens (16 a 24 anos), onde teve desempenho abaixo da média em outras pesquisas recentes.

Mostrando Lula com 43% de intenções de voto no primeiro turno, contra 19% de Alckmin, no cenário em que Garotinho é candidato e alcança 14%, a pesquisa consola os tucanos inconformados com a exclusão de Serra. Ele aparece empatado com Lula no segundo turno, dentro da margem de erro (44% a 40%). Já não seria o único a bater Lula, como na pesquisa CNI-Ibope de dezembro. Contra Alckmin, no segundo turno, Lula teria 18 pontos de vantagem: 49% a 31%.

Mas até 1º de outubro há uma campanha pelo meio, em que a oposição vai gastar toda a munição acumulada durante a crise, a exemplo da nova ofensiva contra Palocci. Alckmin até agora apenas ensaiou sua retórica anti-Lula. Para ele, a pesquisa é ruim porque o leva de crista baixa para as negociações com o PFL e mesmo para a recomposição com os tucanos serristas. Lembrando que o PFL pode lhe dar, entre outras vantagens, 5,5 minutos a mais de tempo na televisão, o senador Agripino Maia dizia ontem:

- A aliança depende muito agora da capacidade que ele tenha para harmonizar os conflitos eleitorais entre pefelistas e tucanos em alguns estados.

Em matéria de ceder espaço a aliados, os tucanos são parecidíssimos com os petistas. Primeiro eles. Mas com o Alckmin deste momento, não estão em condições de endurecer.