Título: EXÉRCITO E MARINHA INVESTIGAM 56 MILITARES
Autor: Célia Costa/Antônio Werneck/Jorge Antônio Barros/A
Fonte: O Globo, 16/03/2006, Rio, p. 14

Doze oficiais estão entre suspeitos de desvios de armamentos

Os serviços de inteligência do Exército e da Marinha investigam atualmente 56 militares suspeitos de envolvimento em desvios e roubos de armas e munição em unidades das duas corporações. Entre os investigados, figuram 12 oficiais. Um dos casos já foi enviado à 4ª Auditoria de Justiça Militar, que ouviu os depoimentos de 14 militares do Exército suspeitos de envolvimento no desaparecimento de mil cartuchos de fuzil calibre 7,62 (FAL) da 9ª Brigada de Infantaria Motorizada, na Vila Militar. A munição foi roubada entre os dias 8 e 11 de novembro de 2002.

Com o crescente número de roubos e desvios de material bélico em unidades do Exército e da Marinha, os militares ligados aos centros de inteligência passaram a investigar integrantes das próprias corporações. Na Marinha, por exemplo, o centro de inteligência monitora a movimentação de 11 militares, dois deles oficiais. Sigilosas, as investigações internas não são comentadas oficialmente pelos setores de comunicação das duas Forças. No 1º Distrito Naval, na Praça Mauá, o trabalho do centro de inteligência é classificado como confidencial.

O mesmo acontece com o Exército. Chefe do Estado-Maior do CML, o general Hélio de Macedo Júnior admite a existência de investigações paralelas ao inquérito policial-militar (IPM), instaurado para apurar o ataque ao ECT, em São Cristóvão. O general não comenta, no entanto, o andamento das investigações.

- Essas informações fazem parte de IPMs e não podem ser abertas para evitar prejuízos às investigações - justifica o chefe do Estado-Maior.

De acordo com um integrante do serviço de inteligência do Exército, atualmente 45 militares da Força são investigados por suspeita no envolvimento em roubos e desvios de armas e munição. Desses, dez são oficiais, entre eles dois capitães e cinco tenentes. A maioria dos suspeitos, no entanto, é formada por soldados e cabos, patentes mais baixas.

Um relatório do Ministério Público Militar (MPM) sobre o roubo e desvio de armas em unidades do Exército, da Marinha e da Aeronáutica indica que os militares envolvidos nos crimes, além de estarem na base da pirâmide hierárquica das três Forças, moram em favelas como Rocinha, em São Conrado; Complexo do Alemão, em Ramos; Complexo da Maré, em Bonsucesso; e Vigário Geral.

Elaborado por uma comissão do Ministério Público Militar, o documento usa como base dados fornecidos pelos comandos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. O relatório, no entanto, não menciona números da participação de militares nos desvios por falta de informações detalhadas nos documentos analisados.