Título: Preso o 1º suspeito do roubo
Autor: Célia Costa/Antônio Werneck/Jorge Antônio Barros/A
Fonte: O Globo, 16/03/2006, Rio, p. 14

Sentinelas identificam ex-cabo que serviu no quartel atacado; militar da ativa pode ser o próximo

Ex-cabo do Estabelecimento Central de Transportes (ECT) do Exército, Joelson Basílio Silva foi preso ontem por suspeita de participação no ataque à unidade militar em São Cristóvão, de onde foram roubados dez fuzis e uma pistola no dia 3 deste mês. Ele foi identificado por sentinelas como envolvido no roubo das 11 armas. A prisão do ex-militar foi a primeira realizada pelo Comando Militar do Leste (CML) após 13 dias de investigações. O Exército conseguiu ainda mandado de prisão temporária da 4ª Auditoria de Justiça Militar em nome de um militar - um soldado ou sargento lotado no ECT - também envolvido no crime.

O ex-cabo já vinha sendo investigado internamente antes do ataque ao quartel, onde serviu por cinco anos. Desligado no fim de fevereiro, três dias antes do roubo das armas, o ex-militar seria ligado a traficantes do Complexo do Alemão - o primeiro alvo da ocupação do Exército - onde teria parentes. Citado nas investigações, Joelson chegou a ligar para o quartel para questionar os rumos da investigação. Ontem o ex-cabo foi preso enquanto prestava novo depoimento.

Detector aponta mentira de ex-cabo

Além de ter sido reconhecido por sentinelas, o ex-militar não apssou no teste do detector de mentiras. As suspeitas sobre ele foram reforçadas pela confirmação de que o ex-cabo havia tido desentendimentos com um tenente antes de ser desligado. O oficial estava de serviço na noite do ataque e foi o mais agredido pelos invasores. As agressões foram gravadas pelo circuito interno de segurança da unidade. Nas imagens, o tenente e outros sentinelas foram perfilados, espancados e agredidos a coronhadas.

Os quatro homens que invadiram o ECT contaram com o apoio de pelo menos outros quatro que aguardavam em três carros do lado de fora. A informação foi dada ontem por fonte militar do CML que participa das investigações. Ao todo, 40 pessoas já foram ouvidas pelo Exército, 37 mandados de busca e apreensão foram expedidos pela Justiça Militar e outros 35 de interceptação telefônica foram autorizados. O inquérito foi avocado para o CML por determinação de seu comandante, o general Domingos Curado.

Polícia investiga outro ex-militar

A Polícia Civil vai investigar se existe alguma ligação entre outro ex-cabo do Exército, preso anteontem na Rocinha, e o roubo das armas do ECT. Leandro Saturnino, de 22 anos, foi detido por policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM que participavam da operação conjunta com o Exército na Rocinha em busca das armas. Segundo o secretário de Segurança, Marcelo Itagiba, os policiais receberam uma informação de que havia um homem com arma numa casa e chegaram até o ex-cabo.

- Os policiais participavam da operação na Rocinha e um indivíduo informou que numa determinada casa estava escondido um bandido e lá havia uma arma. Agora será investigado se existe alguma relação entre este ex-cabo preso e o desaparecimento das armas - disse o secretário.

Dispensado do Exército em 2004, ele serviu no 15 º Regimento de Cavalaria Motorizada, em Campinho. Com ele foram apreendidos uma pistola Glock 380, carregadores, três bombas artesanais, munição e uma farda do Exército. O ex-cabo negou trabalhar para o tráfico e afirmou que é servente de obra. Ele disse ainda que teria encontrado as armas num matagal, levando-as para casa. Sua explicação não foi suficiente e ele foi preso em flagrante, acusado de porte ilegal de arma e de artefato explosivo.

Segundo o delegado da 15ª DP (Gávea), Rodrigo Martiniano, ao ser preso, Leandro identificou para os policiais outras casas onde o tráfico guardava armas. A informação levou o Bope a encontrar outras oito bombas de fabricação artesanal, todas numa casa em uma localidade conhecida como Terreirão.

Depois do aparecimento das armas roubadas, anteontem à noite, numa trilha em São Conrado, o Disque-Denúncia (2253-1177) passou a receber informações sobre a autoria do ataque ao ECT. Até as 16h de ontem foram três telefonemas. Todas as denúncias estão sendo encaminhadas para o serviço de inteligência da Secretaria de Segurança. Desde o dia do ataque ao ECT, o Disque-Denúncia recebeu 972 informações, em média 150 ligações por dia.

COLABORARAM Ana Wambier, Antônio Werneck e Jorge Antônio Barros

Os próximos passos: tropas podem voltar às ruas em breve

Operações pontuais serão realizadas sempre que o IPM exigir diligências

As tropas verde-oliva podem voltar às ruas do Rio em breve. Isto porque o inquérito policial-militar (IPM) aberto pelo Exército para identificar os autores do roubo das armas continua e, no decorrer das investigações, podem haver ações pontuais para prendê-los.

- Onde houver suspeitos e nos locais onde devem ser encontradas pessoas envolvidas, serão realizadas ações com a participação da Polícia do Exército - afirmou ontem o chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Leste, general Hélio Macedo.

A Secretaria de Segurança Pública permanece atuando com o Exército, tanto na área de inteligência quanto nas operações para identificar e localizar os criminosos. O general Hélio Macedo disse que não pode dar qualquer informação sobre os suspeitos porque a investigação é sigilosa. Ele adiantou apenas que pode haver ligação de militares ou ex-militares que trabalharam no Estabelecimento Central de Transporte do Exército com o tráfico de drogas. Os 15 homens que estavam de plantão no quartel na madrugada do dia 3 permanecem na unidade para prestar esclarecimentos.

http://www.oglobo.com.br/rio