Título: ITABORAÍ LEVA O PÓLO PETROQUÍMICO
Autor: Ramona Ordoñez/Mônica Tavares
Fonte: O Globo, 16/03/2006, Economia, p. 21

Município do Rio desbanca favoritos e sediará o projeto de US$6,5 bi da Petrobras

Nem Itaguaí nem Campos. Enquanto os dois municípios travavam uma disputa acirrada para ganhar a instalação do megaprojeto da Petrobras de construir um novo pólo petroquímico no Estado do Rio, venceu um azarão. O município de Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio, foi o escolhido para sediar o empreendimento liderado pela Petrobras e pelo grupo privado Ultra, confirmaram ontem duas fontes graduadas do governo federal. A informação havia sido publicada ontem na coluna de Ancelmo Gois, no GLOBO. Itaboraí foi escolhida por ter melhores condições ambientais e não necessitar de porto. Os produtos serão escoados pela Ilha D'Água, da própria Petrobras, hoje uma base de armazenamento de combustíveis na Baía de Guanabara.

Uma das fontes diretamente envolvidas no processo de escolha disse que o Executivo, embora seja controlador da Petrobras, resguarda a independência da estatal. Por isso caberá à petrolífera fazer o anúncio sobre o novo empreendimento, que terá unidades e refinarias petroquímicas. A Petrobras oficialmente nega a escolha de Itaboraí e diz que nada foi decidido. Mas outra fonte que acompanha de perto o processo garantiu que o anúncio será feito na semana que vem.

O prefeito de Itaboraí, o petista Cosme José Salles, confirmou ontem, eufórico, que seu município havia sido escolhido, apesar de não haver ainda o anúncio oficial:

- Não posso dar mais detalhes do local porque não foi anunciado oficialmente. Mas vai ser muito importante para o desenvolvimento da região. Temos rodovias para o escoamento da produção, como a BR-101 e a 493 - disse Salles.

Em dezembro de 2004, foi promulgada pela Câmara de Vereadores uma lei que fixou o salário dos prefeitos de Itaboraí em 0,5% da arrecadação mensal - que será incrementada com a chegada do pólo.

Pólo vai gerar 450 mil empregos

Toda a Região Metropolitana do Rio será beneficiada com o projeto, que prevê, na primeira etapa, investimentos de cerca de US$6,5 bilhões (quase R$13,8 bilhões). Segundo uma alta fonte técnica que participa do projeto, o município de São Gonçalo também será diretamente beneficiado. Nessa cidade será construída uma estrutura para armazenar diversos produtos líquidos, como propeno e GLP (o gás de cozinha).

A estimativa da Petrobras é que nos próximos cinco anos sejam gerados na região cerca de 450 mil empregos diretos e indiretos com o projeto. Esse número considera o chamado efeito renda, ou seja, a multiplicação dos 75 mil empregos que serão gerados com as obras.

O empreendimento prevê a construção de uma refinaria que vai usar o petróleo pesado extraído em Marlim, na Bacia de Campos, para produzir propeno e eteno - matérias-primas para a indústria petroquímica. Essa refinaria deve receber investimentos da ordem de US$3,5 bilhões que serão aplicados pela Petrobras e pelo Ultra. A outra etapa, que será construída ao mesmo tempo, são as unidades petroquímicas que usarão esses insumos para produzirem as matérias-primas para a indústria de plástico. A expectativa é de que o pólo atraia ainda novas indústrias de plásticos para o estado, que poderão representar investimentos de mais US$2 bilhões.

O Estado do Rio já conta com o Pólo Gás-Químico de Duque de Caxias, que foi inaugurado no ano passado e começa a atrair também indústrias de plásticos para a região.

A notícia da escolha de Itaboraí pegou políticos e o governo do Estado do Rio de surpresa. O secretário estadual de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio, Wagner Victer, disse que anteontem o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, havia dito que a localização do pólo ainda não havia sido decidida. Mas Victer destacou que o governo vai apoiar qualquer região do estado que seja escolhida.

Já o prefeito de Itaguaí, Carlos Busatto, não se pronunciou sobre o assunto. Ele e o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, encabeçaram uma campanha no ano passado em prol de Itaguaí. A região do Norte Fluminense, onde está Campos, tinha todo o apoio do governo do Estado, em uma campanha liderada pela governadora Rosinha Garotinho.

A fonte técnica ligada ao empreendimento explicou que há cerca de dois meses o grupo de trabalho que vinha fazendo os estudos para a escolha do local decidiu incluir uma terceira opção. A região escolhida foi a que eles chamavam de "nos fundos da Baía de Guanabara", em uma área entre Duque de Caxias e Niterói.

Segundo essa fonte, a decisão de incluir essa outra região como opção foi tomada por causa dos problemas encontrados nas duas outras áreas. No Norte Fluminense, disse o técnico, um dos maiores problemas é não ter um porto para escoar os produtos - que caso fosse construído ficaria distante mais de 40 quilômetros.

Em Itaguaí, um dos problemas que mais pesaram foram os ambientais. Isso porque estão previstos vários novos projetos siderúrgicos para Itaguaí, como o da Companhia Vale do Rio Doce e da alemã ThyssenKrupp.

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Cidade tem renda de menos da metade da estadual

Taxa de analfabetismo chega a 10,77%

Com menos de 200 mil habitantes, Itaboraí é bem mais pobre do que a média das cidades do Estado do Rio e também não ostenta bons indicadores de saúde e educação. A renda per capita do município é de R$5 mil por ano, menos da metade da média estadual, de R$12.671, e inferior à brasileira, de R$8.964, segundo as últimas estatísticas disponíveis, de 2003. No município, a média de anos de estudo dos adultos é de apenas 5,19, ou seja, Ensino Fundamental incompleto. A taxa de analfabetismo é elevada: 10,77% das pessoas com mais de 15 anos não sabem ler nem escrever, acima da média estadual, de 6,22%.

Em um quinto das moradias, não há banheiro nem água encanada. De cada mil crianças que nascem vivas, 27 morrem antes de completar cinco anos. Segundo a prefeitura, as principais atividades econômicas são cerâmica, inclusive decorativa, fruticultura, agricultura de subsistência, criação de peixes e pecuária extensiva.