Título: De protegido a bola da vez
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 17/03/2006, O GLOBO, p. 2

Há quase um ano a CPI dos Bingos investiga o que bem entende, sem a menor atenção ao fato determinado que a gerou. O governo ensaiou mas nunca se animou a recorrer ao STF para limitar seu raio de ação. Acusado de abafar investigações, perderia ainda mais. Ontem, com o senador Tião Viana, fez isso com atraso e na pior das horas. Ficou com o desgaste de interromper um depoimento já danoso enquanto durou, levando a oposição a pedir a saída de Palocci.

Mas não foi isso que fez ruir a blindagem que a oposição ofereceu durante meses ao ministro. A decisão de retirar a proteção já foi tomada há alguns dias. No Senado, até os contínuos sabem que o caseiro Francenildo foi descoberto pelo senador tucano Antero Paes de Barros. Em entrevista ao jornal ¿O Estado de S. Paulo¿, Nildo, como é chamado, desmentiu o ministro, como já fizera um motorista, afirmando tê-lo visto ¿umas dez ou vinte vezes¿ na casa de negócios e diversão da turma de Ribeirão Preto, à qual serviu como caseiro. Palocci disse e repete que nunca esteve lá. Com a liminar obtida pelo senador Tião Viana, e a interrupção do depoimento, o governo desafiou a oposição a explicitar que trabalha pela queda do ministro, o que foi feito pelos senadores Arthur Virgílio (PSDB) e Pedro Simon (PMDB).

O fim da blindagem de Palocci faz parte de uma ofensiva para tentar deter o avanço do presidente Lula nas pesquisas. É só um sinal da luta sangrenta que vem por aí, apesar do estilo ameno que o candidato Geraldo Alckmin vem ostentando. Anteontem a CPI dos Bingos golpeou fortemente o governo aprovando o depoimento do caseiro, a convocação de Delúbio Soares e uma acareação entre Paulo Okamotto, presidente do Sebrae e amigo de Lula, e o ex-petista Paulo de Tarso Venceslau, que o acusa de ter coordenado um caixa dois petista junto às prefeituras nos anos 90. Com o candidato do PSDB escolhido, tucanos e pefelistas decidiram retirar a proteção a Palocci, refrescar a memória do eleitorado sobre os escândalos e manter a CPI dos Bingos acesa até junho, já que a dos Correios está chegando ao fim.

Anteontem, Lula acompanhou de Sergipe, por telefone, o movimento na CPI. A pelo menos um auxiliar garantiu, de novo ontem, que o ministro não sairá por conta de denúncias que o envolvem com a turma de Ribeirão Preto. Os mesmos que blindaram Palocci quando isso interessava agora querem a cabeça dele. Mas isso, só com fato novo; com história velha, não, teria dito Lula. Mas uma coisa é a disposição de Lula, outra a de um Palocci exausto pelas denúncias que agora atingiram até sua vida pessoal, embora os boatos de que pediria demissão tenham sido desmentidos.