Título: `Palocci não teria entrado no meu governo¿
Autor: Adriana Vasconcelos e Isabvel Braga
Fonte: O Globo, 17/03/2006, O País, p. 10

Alckmin diz que situação do ministro é delicada e critica política econômica mas promete manter Bolsa Família se vencer

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Já em plena campanha, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, disse ontem em Brasília que é delicada a situação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Evitou dar opinião sobre o futuro do ministro, mas afirmou que, no seu governo, esse desconforto não chegaria ao ponto em que chegou agora.

¿ Isso não chegaria nesse ponto. (Palocci) Não teria nem entrado. Ministro é cargo de confiança do presidente. Cabe ao presidente decidir e avaliar a confiança de seus ministros. É óbvio que é uma situação extremamente desconfortável para o governo ¿ salientou o governador de São Paulo.

Antes, no Supremo, Alckmin disse:

¿ A situação é delicada, e é preciso continuar investigando.

O governador disse que não fará ataques pessoais durante a campanha, pelo respeito que tem à biografia de Lula. E chegou a admitir que poderá dar continuidade a um dos principais programas sociais do governo do PT: o Bolsa Família.

¿ Quando o presidente Lula assumiu, 5,5 milhões de famílias já eram atendidas pelo Bolsa Família. Quem criou essa rede de proteção social foi o presidente Fernando Henrique. Era o Bolsa Escola, que tinha como contrapartida a freqüência na escola e a vacinação das crianças. Isso é claro que tem de ser mantido. Mas a questão essencial é emprego, renda e salário. Esse é o grande desafio ¿ previu.

¿A campanha não começou¿

Escolhido para representar o PSDB mesmo tendo um desempenho nas pesquisas de opinião pior do que o prefeito de São Paulo, José Serra, Alckmin não demonstrou preocupação com os últimos números divulgados que garantiriam uma vitória de Lula já no primeiro turno das eleições.

¿ Eu imaginava começar uma campanha, com baixo conhecimento que tenho e sem nunca ter disputado uma eleição nacional, com um dígito: 8%, ou 9% .Ter 19%, 20%, é extremamente alto ¿ disse.

E minimizou o favoritismo de Lula:

¿ A campanha não começou. Esse é o retrato do passado. Lula disputou a eleição, é presidente e tem uma enorme exposição. Em 2002, na disputa pelo governo de São Paulo, Maluf tinha 43% em julho, garantia de vitória no primeiro turno, mas nem para o segundo turno ele foi. Em 20 dias baixou de 38% para 17% e o Genoino subiu de 15% para 30%. A eleição só vai começar quando começar o debate.

Alckmin disse que não aceitará a pecha de conservador:

¿ Levo com bom-humor essa história de conservador. De esquerda é o Lula, que coloca o Meirelles no Banco Central, cujo governo tem a maior taxa de juros. Fiz em São Paulo a maior revolução do crescimento. Foram 7,6% do PIB de crescimento no ano passado, igual ao chinês. Para mim é desenvolvimento com inclusão social, mas entendo que ninguém quer a volta da inflação. Se melhorarmos a qualidade do gasto público, dá para baixar os juros.

Em São Paulo, em entrevista à Rádio CBN, ele classificou o governo Lula de frouxo por não adotar uma linha de austeridade fiscal. Disse que, se eleito, mudará imediatamente os rumos da política monetária, que considera conservadora.

¿ Esse tripé econômico está errado. Não há razão para o país ter uma taxa de juros reais de 12%, enquanto a segunda taxa do mundo é de 6% e a taxa média internacional é de 3% ¿ explicou, sem, no entanto, detalhar o seu programa de governo nessa área.