Título: JUIZ MANDA POLÍCIA FEDERAL PERICIAR ARMAS
Autor: Sérgio Ramalho
Fonte: O Globo, 17/03/2006, Rio, p. 12

Decisão causa mal-estar porque o Exército queria usar os seus próprios especialistas

As 11 armas recuperadas pelo Exército numa trilha às margens da Estrada das Canoas, em São Conrado, serão periciadas pelo Núcleo de Criminalística (Nucrim) da Polícia Federal. A medida foi determinada ontem pelo juiz Marco Aurélio Petra de Mello, da 4 ª Auditoria da Justiça Militar, e gerou mal-estar no Comando Militar do Leste (CML). Os responsáveis pelo IPM 02/06 ¿ instaurado para apurar o roubo das armas ¿ defendiam que as análises fossem feitas no 1º Batalhão de Perícia do Exército (BPE).

As armas roubadas estavam com os números de série raspados. Os ladrões, no entanto, não tiveram a mesma cautela ao armazenar os fuzis e a pistola. Ao serem apresentadas pelo CML, na noite de terça-feira, as armas apresentavam ferrugem. Na ocasião, o chefe do Estado-Maior, general Hélio de Macedo Júnior, argumentou que a corrosão seria derivada do acondicionamento impróprio.

¿ As armas podem ter sido enterradas ¿ disse o general Macedo, acrescentando que a umidade do solo provocaria a corrosão.

É esse um dos quesitos que a Justiça Militar espera responder com a perícia do Nucrim da Polícia Federal. Através da análise dos técnicos será possível estabelecer o grau de corrosão das armas. O objetivo é determinar se os sinais de ferrugem são compatíveis com o tempo em que as armas permaneceram em poder dos ladrões. A perícia também vai avaliar o tempo de fabricação das armas e possíveis substituições de peças dos fuzis e da pistola. Numerações de segurança (algarismos forjados em partes internas das armas) serão comparadas com dados do armamento roubado fornecidos pelos responsáveis pelo IPM.

Apesar do mal-estar gerado pela decisão de enviar as armas a perícia fora do Exército, integrantes da Justiça Militar evitaram polemizar sobre a medida. Um dos promotores envolvidos na investigação, no entanto, admitiu que militares do CML argumentaram de forma contrária à determinação do juiz da 4ª Auditoria Militar. De acordo com o promotor, a iniciativa do juiz não coloca em xeque a versão do Exército sobre a recuperação das armas. Segundo ele, o objetivo é dar mais transparência às investigações.

O Comando Militar do Leste não se pronunciou sobre a determinação da Justiça, mas militares ligados à investigação argumentam que a decisão poderia ter sido adotada caso o 1º BPE não apresentasse capacidade técnica para realizar o trabalho. O que não acontece.