Título: ATA DO COPOM INDICA QUE CORTE DE JUROS CONTINUARÁ GRADUAL
Autor: Patricia Eloy, Wagner Gomes e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 17/03/2006, Economia, p. 21

BC diz que ainda não foi possível avaliar efeitos da política monetária adotada a partir de setembro

BRASÍLIA. A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) só confirma a avaliação feita pela equipe econômica ao Palácio do Planalto: a de que o corte dos juros continuará a conta-gotas, em 0,75 ponto percentual, mesmo que três dos nove diretores tenham votado por uma redução maior. O texto, divulgado ontem, afirma que, apesar de a inflação estar sob controle e o crescimento econômico ainda não mostrar muito fôlego, o Copom ainda não consegue mensurar de fato os efeitos da política monetária adotada desde setembro passado, que já resultou em corte de 2,5 pontos percentuais na Selic, hoje em 16,50% ao ano.

O Copom frisou que sua avaliação levou em consideração o ¿aumento progressivo no peso relativo dos riscos associados às incertezas que cercam os mecanismos de transmissão da política monetária, particularmente no tocante às defasagens e magnitudes do impacto das alterações da taxa Selic sobre a inflação¿. Ou seja: o BC acredita que há riscos de, se cortar depressa demais os juros, haver uma explosão do consumo e descontrole da inflação.

A autoridade monetária acrescentou ainda que ¿a atuação cautelosa da política monetária tem sido fundamental para aumentar a probabilidade de convergência da inflação para a trajetória de metas¿, de 4,5% pelo IPCA em 2006. O economista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, concorda com esse raciocínio e ressalta que o cenário econômico é benigno.

¿ A ata está neutra e reforça que os juros serão reduzidos com cautela. A não ser que surjam dados mostrando que o crescimento econômico pode ser menor neste ano¿ afirmou Lintz, para quem o Banco Central (BC) cortará 0,75 ponto no próximo encontro do Copom, nos dias 18 e 19 de abril, repetindo o movimento das duas últimas reuniões.

BC trabalha com expectativa de crescimento de 4% do PIB

Para o Copom, a atividade econômica está se recuperando desde o fim do ano e continua na mesma trilha neste primeiro semestre. Os principais motores do Produto Interno Bruto (PIB) são a alta do emprego, da renda e do crédito e a própria queda dos juros. O BC reconhece que os gastos públicos estão em alta, mas não critica o movimento, apenas aponta sua contribuição em 2006, ano eleitoral:

¿A esses fatores (renda, emprego e crédito) devem ser acrescidos os efeitos da expansão das transferências em função do novo valor do salário-mínimo (que passa a R$350 em abril) e dos impulsos fiscais ocorridos no último trimestre do ano passado e esperados para o primeiro semestre deste ano¿.

O BC trabalha com crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de riquezas geradas pelo país) de 4% para 2006, enquanto o mercado aposta em 3,5%.

Na ata, o Copom também estimou que os reajustes de telefonia fixa em 2006 ficarão em 3,1% e não mais em 2,5% como previu no documento anterior. Por outro lado, o BC revisou para baixo, de 4,2% para 3,6%, os aumentos médios esperados nas tarifas de energia elétrica residenciais. Para os preços de gás de cozinha e da gasolina, a autoridade monetária manteve a projeção de estabilidade em 2006, mesmo com os repiques nos preços do álcool ultimamente.