Título: CNI: VENDAS DA INDÚSTRIA AUMENTAM MAIS DE 4% E INDICAM PRODUÇÃO MAIOR
Autor: Geralda Doca
Fonte: O Globo, 17/03/2006, Economia, p. 22

Economista vê na expansão de janeiro sinal de reação forte nos próximos meses

BRASÍLIA. Com a forte expansão das vendas industriais no início do ano ¿ que subiram mais de 4% em janeiro, em relação a dezembro e o mesmo período de 2005 ¿ o setor recupera o otimismo e já prevê crescimento da produção a partir do próximo mês, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Pesquisa divulgada ontem pela entidade mostra que o fortalecimento do consumo das famílias, puxado pelo aumento da renda e a trajetória de queda dos juros, ajudou no desempenho industrial na entrada de 2006.

Para atender a demanda crescente, a indústria aproveitou para desovar os estoques, que viraram o ano acima dos níveis planejados. Não é à toa que dois indicadores registraram queda em janeiro: o número de horas trabalhadas e a utilização da capacidade instalada.

¿ Mas a partir do próximo trimestre teremos crescimento mais expressivo da atividade industrial ¿ disse o economista da CNI Flávio Castelo Branco, citando como fatores positivos o fim dos estoques elevados, a renda dos trabalhador em alta e o corte da Taxa Selic, iniciado há seis meses.

Aumento de gastos públicos pode inibir corte de juros

Para a CNI, a alta no faturamento das empresas indica mudança de cenário da economia, que este ano será impulsionada pelo mercado doméstico. Desde 2003, as exportações foram o motor do crescimento, disse Castelo Branco.

Pela pesquisa, as vendas iniciaram o ano com alta de 4,92%, sobre o mesmo período de 2005, o número de horas trabalhadas caiu 1,25% e a capacidade instalada ficou em 80,4% ¿ a menor taxa desde novembro de 2003. Para a entidade, este indicador mostra que há espaço para crescimento da economia sem gerar pressões inflacionárias, uma das preocupações do Banco Central ao manter a política monetária.

Já o aumento das contratações, segundo Castelo Branco, ficará para o segundo semestre. Num primeiro momento, as indústrias aumentarão o número de horas trabalhadas, com pagamento de horas extras. Ele disse ainda que, com a queda no dólar, os investimentos em bens de capital vão prosseguir em 2006, apesar das eleições.

¿ Não vai ter caixinha de surpresas ¿ disse Castelo Branco, se referindo à reeleição do presidente Lula ou a vitória do candidato do PSDB, os cenários mais prováveis.

Apesar disso, a entidade afirma que a elevação nos gastos públicos no atual governo é preocupante, porque pode adiar uma queda mais expressiva do juros. Se por um lado ajudou na expansão da demanda, já acendeu as luzes amarelas, disse o economista.

O resultado positivo apurado pela CNI não contradiz a retração de 1,3% que o IBGE apurou na produção industrial de janeiro. Os indicadores são diferentes. Na CNI, mede-se a venda de unidades produzidas. Portanto, se há estoque elevado, as vendas podem crescer mesmo que a empresa não fabrique um só produto. No caso do IBGE, o objeto da apuração é o número de unidades produzidas.