Título: ALENCAR NA CHINA TENTARÁ TIRAR PROJETOS DO PAPEL
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 17/03/2006, Economia, p. 22

Na visita, vice-presidente vai criar um fórum permanente de discussão entre os dois países

PEQUIM. O vice-presidente brasileiro, José Alencar, inicia no domingo uma visita oficial de cinco dias à China com o objetivo principal de inaugurar a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível. Trata-se de uma espécie de fórum permanente de discussões com o qual se pretende acelerar a agenda de acordos comerciais e memorandos de investimento assinados entre os dois países ainda em 2004, na visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, diz a embaixada brasileira em Pequim.

Mas ainda que o fluxo de comércio entre os dois países tenha subido de US$9,1 bilhões, em 2004, para US$12,1 bilhões, em 2005, a grandeza da parceria econômica que se anunciou na época ¿ como o início das exportações de carnes e frutas brasileiras, o investimento de US$4 bilhões dos chineses em infra-estrutura no Brasil e até a enxurrada prevista de turistas chineses ávidos por descobrir a América ¿ não saiu do papel.

Pior: pelo menos dois novos delicados problemas terão de ser abordados por Alencar em seus encontros com as autoridades chinesas ¿ a intervenção do governo chinês nos contratos de fornecimento de minério de ferro da Vale do Rio Doce a siderúrgicas da China e a decisão da Chongqing Lifan de comprar uma fábrica de motores da Daimler-Chrysler de Campo Largo, no Paraná. Além disso, Alencar terá que renegociar a extensão dos benefícios fiscais à Embraer em sua joint-venture no país.

Segundo o Ministério do Comércio da China, ano passado o Brasil tinha 384 parcerias empresariais com companhias estatais chinesas e o total investido pelo país foi de US$144 milhões. A China, por sua vez, possui 89 associações no Brasil e no país investiu US$151 milhões.

¿ O trabalho de José Alencar e a missão brasileira será retirar das gavetas da burocracia chinesa os projetos e transformá-los em realidade. Não é tarefa fácil ¿ diz um representante do governo brasileiro que virá à China.

Na pauta, investimentos de empresas brasileiras

Será preciso também, diz ele, que o governo consiga administrar os novos problemas sem comprometer o andamento dos acordos já firmados, ou seja, a questão da Vale, da Embraer e da fábrica de motores paranaense. Do lado das empresas brasileiras, como a Vale do Rio Doce ou a Embraer, e de políticos que não vêem a China como parceiro ideal por sua sede tecnológica, o governo precisa ser mais duro.

Afinal, argumentam, foi o próprio presidente da Chongqing Lifan, Yin Mingshan, que afirmou ser a importação da fábrica de motores viável somente no Brasil porque, se fosse tentada nos EUA, seria barrada pelo governo americano por conta da troca de alta tecnologia envolvida.