Título: CONSUMO DE ÁLCOOL CAI 50% NO RIO
Autor: Ramona Ordoñez e Aline Galcino
Fonte: O Globo, 17/03/2006, Economia, p. 25

Ministro da Agricultura diz que consumidor tem que ser fiscal dos preços

RIO e ARAÇATUBA (SP). Como o mercado previra, o consumo de álcool hidratado (combustível) caiu em torno de 50% na cidade do Rio, segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do Município do Rio (Sindicomb), José Luiz Mota Afonso. A queda da demanda se deve aos fortes aumentos de preços que o produto vem registrando desde o início do ano. Os donos de carros bicombustíveis passaram a usar gasolina em vez de álcool.

Ontem, em um evento em Araçatuba (SP), o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse que o governo não vai intervir no setor sucroalcooleiro para fazer os preços baixarem. Ele afirmou que os preços continuam altos porque os usineiros não cumpriram o acordo de teto de preços, mas também pôs o consumidor como responsável:

¿ O álcool está caro e o consumidor tem que ter sua posição de fiscal do processo. Se o álcool está acima de 70% do preço da gasolina, põe gasolina, pois não compensa.

O motor de um carro gasta 30% mais combustível quando movido a álcool, por isso só vale a pena abastecer um veículo flex com esse produto quando o preço é de até 70% do valor da gasolina.

Segundo o presidente do Sindicomb, as distribuidoras continuam vendendo o álcool e a gasolina com aumentos de preços. Mota Afonso disse que as distribuidoras aumentaram os preços da gasolina para os postos em torno de 1%, enquanto a Petrobras Distribuidora (BR) teria reajustado seus preços em até 3,5%.

Ministro e representante de usineiros trocam farpas

Para evitar que a situação de alta dos preços do álcool se repita nos próximos anos na entressafra, o governo estuda medidas para a criação de uma política de estocagem a iniciativa privada deverá ter participação. A política deve ser anunciada, segundo Rodrigues, até o fim de maio. De 1,5 bilhão a 2,5 bilhões de litros de álcool deverão ser estocados.

Para o presidente da União da Agroindústria Sucroalcooleira de São Paulo (Unica), Eduardo Pereira de Carvalho, o setor tem diversas propostas para o estoque regulador, que não saem do papel por falta de apoio do governo. O ministro reagiu:

¿ Que tragam as propostas para nossa avaliação.

Um protesto marcou a participação de Rodrigues na Feira de Negócios do Setor de Energia. Agricultores da região derramaram uma tonelada de soja e uma tonelada de milho na rua por onde o ministro passaria, e atearam fogo aos grãos. Faixas e cartazes criticavam as iniciativas do governo no setor. Roberto Frare, presidente da Associação de Produtores de Coroados (SP), disse que o ministro está ¿correndo da agricultura faz tempo¿. O ministro considerou a ação justa:

¿ Existe uma descapitalização enorme no campo, por fatores que todos conhecemos.

(*) Especial para o GLOBO