Título: SEGUNDO PARTO
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 19/03/2006, O GLOBO, p. 2

A aliança PFL-PSDB que elegeu Fernando Henrique surgiu naturalmente, na preparação das condições para o lançamento do Plano Real. Ruindo aos poucos, não se reproduziu em 2002, quando José Serra foi o candidato. O governador Geraldo Alckmin poderá reeditá-la mas em condições bastante diferentes. Terá que conceder muito agora e mais ainda se chegar a governar.

Começa agora uma intensa movimentação para convencer o prefeito José Serra a disputar o governo de São Paulo e com isso facilitar o fechamento da aliança nacional de apoio a Alckmin.

No curso do processo de escolha, os pefelistas esqueceram as antipatias passadas e tornaram-se serristas desde criancinhas. Com Serra candidato, receberiam a prefeitura de São Paulo como dádiva, numa bandeja de prata. Mas quem levou a candidatura foi Alckmin, que não tem a prefeitura para entregar.

A costura da aliança nacional começa exatamente por um acordo regional em São Paulo, onde o PFL atende pelo nome de Gilberto Kassab, o vice de Serra. Ele ainda não engoliu os ataques que lhe fizeram os alckmistas quando combatiam a hipótese de Serra deixar-lhe a prefeitura. Agora responde vetando o apoio do PFL a qualquer um dos candidatos a governador ligados a Geraldo Alckmin. A restrição vira ódio quando o nome é o do secretário de Educação, Gabriel Chalita, que foi seu mais agressivo detrator.

A moral da história é que Alckmin ganhou a candidatura presidencial mas perdeu as condições de influir sobre a escolha do candidato à sua sucessão no Palácio dos Bandeirantes. Está sendo forçado a quase implorar a Serra para que seja candidato a governador. Não conseguindo, terá que aceitar um nome indicado por ele. Alguém de DNA indiscutivelmente serrista, como Aloysio Nunes Ferreira ou Alberto Goldman. Assim, dará para negociar, dizem os pefelistas. Hoje Alckmin tem encontro com o presidente do PFL, Jorge Bornhausen. Antes de passarem aos problemas da composição eleitoral em outros estados, vão tratar da sucessão paulista.

Serra continua evitando falar sobre uma candidatura a governador. Não que desdenhe do cargo ou da oportunidade. Por ora, não demonstra apetite para entrar na disputa apenas para servir a quem o derrotou. Quer ter mais clareza do quadro, avaliar corretamente as chances de vitória, que segundo as pesquisas seriam grandes.

Já lhe oferecem um discurso para justificar a saída da prefeitura: como governador, poderá fazer muito mais pela cidade. A segurança pública está subordinada ao governo estadual, que sobre a área de transportes tem mais influência que a prefeitura, sendo por exemplo o dono do metrô.

Resolvido o problema de São Paulo, Cesar Maia continuará dizendo que ainda é candidato até que Alckmin acerte os ponteiros com o PFL sobre a dezena de estados em que o partido tem candidatos a governador. Só depois, tratarão do vice e dos compromissos sobre a participação do PFL no eventual futuro governo tucano. Tudo muito bem amarrado. Este é o jogo que se segue na oposição, além das escaramuças diárias com o governo no Congresso e da caça à cabeça do ministro Palocci.