Título: APÓS VITÓRIA NO PSDB, ALCKMIN SE PREPARA PARA OS DESAFIOS MAIS DUROS
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 19/03/2006, O País, p. 4

Tornar-se conhecido, cuidar de alianças e reagrupar tucanos são as metas

BRASÍLIA. Vencida a disputa pela vaga de candidato do PSDB à Presidência, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, terá novos e duros desafios até outubro. O primeiro deles será o de se fazer conhecido pelo eleitorado, sobretudo no Norte e no Nordeste. Mas antes de começar a viajar para tentar estabelecer-se como um contraponto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador vai precisar de habilidade política para fechar uma aliança formal com o PFL, administrando eventuais divergências nos estados. Sobretudo se o Supremo Tribunal Federal mantiver a verticalização, que estabelece que as coligações nacionais devem ser respeitadas pelos estados.

Uma preocupação de Alckmin nesta negociação será a de garantir um palanque forte em São Paulo, o que poderá levar tanto tucanos quanto pefelistas a pressionarem Serra para que ele aceite concorrer ao governo do estado. Ainda ressentido, o prefeito, por enquanto, rechaça a idéia, mas o PSDB deverá aumentar a pressão para que ele avalie melhor a hipótese.

¿ O governador tem uma ação mais direta na cidade de São Paulo, até mais que o prefeito. Claro que a decisão estará nas mãos de Serra, mas para o partido seria importante tê-lo como candidato ao governo do estado ¿ admitiu o primeiro-vice presidente do PSDB, deputado Alberto Goldman (SP), antecipando que nesse caso ele desistiria da pré-candidatura na disputa estadual.

Outros três tucanos disputam a vaga

Mais três tucanos, além de Goldman, disputam a vaga: o vereador José Aníbal, o secretário estadual Aloysio Nunes Ferreira e o ex-ministro Paulo Renato. Mas as pesquisas de opinião indicam que apenas o prefeito teria chances de vitória. Ele começaria a campanha em um patamar privilegiado, com mais de 70% das intenções de votos, apostam os tucanos.

A saída de Serra da prefeitura facilitaria, e muito, a formalização da aliança nacional entre o PSDB e o PFL, já que o comando da maior capital do país passaria para o pefelista Gilberto Kassab, hoje muito ligado ao prefeito do Rio, Cesar Maia, um personagem que terá papel preponderante na costura da coligação entre pefelistas e tucanos.

¿ A principal tarefa de Alckmin agora é consolidar o bloco de forças que dará sustentação a sua candidatura. Será importante ter palanques em todos os estados. E, necessariamente, palanques fortes nos dez maiores estados do país, especialmente em São Paulo ¿ adverte o cientista político Antônio Lavareda.

Paralelamente a essa negociação, Alckmin terá que correr contra o tempo para vencer um de seus principais problemas: ser totalmente desconhecido para uma parcela significativa do eleitorado. Lavareda já avisou aos tucanos que o percentual de conhecimento de Alckmin em todo país só deverá mudar significativamente depois do início do horário eleitoral gratuito no rádio e na TV.

¿ Depois de oito a dez dias de programas no rádio e na TV é quando realmente ele dará um salto incrível sobretudo no Norte e no Nordeste ¿ prevê o cientista político.

Acabar com as mágoas no partido é outro desafio

Os aliados de Alckmin reconhecem também a importância de nacionalizar a coordenação de campanha, para não ficar restrita em São Paulo.

¿ O nosso primeiro desafio é confirmar a aliança com o PFL. Também temos que ter uma coordenação de campanha que seja representativa de todo o país e multipartidária ¿ avalia o secretário de governo de São Paulo, Arnaldo Madeira.

Outro desafio é acabar com todas as mágoas e unir o partido em torno de Alckmin. Muitos tucanos alertam para o risco do corpo mole.

¿ Fazer corpo mole passa a ser um suicídio coletivo. Se a campanha presidencial for um fiasco, isso prejudica também as candidaturas proporcionais. Por isso, acho que todos nós teremos responsabilidade e compromisso. Alckmin também tem como desafio mostrar um bom desempenho pessoal. No momento em que ele se mostrar competitivo, tudo se resolve ¿ avalia o ex-líder tucano, deputado Custódio Mattos (PSDB-MG).

COLABOROU Gerson Camarotti