Título: CPI VAI APONTAR TRÁFICO DE INFLUÊNCIA JUNTO AO BC
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 19/03/2006, O País, p. 13

Compra do Mercantil de Pernambuco pelo Banco Rural não ocorreu, mas Valério, PT e Dirceu fizeram lobby

BRASÍLIA. O relatório final da CPI dos Correios vai citar e classificar como tráfico de influência o lobby do valerioduto junto ao governo e ao Banco Central para efetivar a compra do Banco Mercantil de Pernambuco pelo Banco Rural. Com base em depoimentos e documentos, integrantes da CPI estão convencidos de que o jogo de pressão junto ao BC envolveu, além de Marcos Valério e Delúbio Soares, o então chefe da Casa Civil, José Dirceu. Apesar de a operação não ter sido autorizada, a CPI deve caracterizar o fato como crime de tráfico de influência.

A linha de investigação da CPI é de que parte dos recursos do valerioduto, obtidos com empréstimos do Rural ao PT (R$3 milhões) e às agências de publicidade do empresário Marcos Valério (R$29 milhões), foi um ¿adiantamento¿ pela futura operação Mercantil/Rural. Depoimentos e documentos relacionados ao caso foram encaminhados ao relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), pelo sub-relator de movimentação financeira, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR).

¿ Está claro que houve tráfico de influência, que se caracteriza pela conduta de Valério. A operação só não se confirmou porque o BC barrou a compra. Com o escândalo, o lobby veio a público ¿ observa Fruet.

Em reportagem de 15 de julho de 2005, o GLOBO revelou que, naquele mês, Valério chantageou Delúbio num encontro em Belo Horizonte. O empresário disse à época que, pelo silêncio, cobraria a efetivação da compra do Mercantil pelo Rural. Valério tentava levantar um bom dinheiro por intermediar a operação.

A CPI tem dados para concluir que o lobby foi intenso. O presidente do BC, Henrique Meirelles, teria recebido forte pressão em 2003 e 2004 de setores do PT e do então ministro Dirceu. Dois parlamentares goianos próximos de Meirelles confirmaram ao GLOBO terem ouvido dele desabafos de que a Casa Civil cobrou uma solução para o Mercantil. Os relatos de Meirelles foram anteriores à crise.