Título: L., 12, UMA GRAVIDEZ E UM ABORTO
Autor: Leticia Lins
Fonte: O Globo, 19/03/2006, O País, p. 15

Menina conta que cobra de R$15 a R$30 por programa nas ruas de Recife

RECIFE. Ela tem apenas 12 anos. Franzina, corpo ainda de menina. Quem olha para L. jamais imagina que ela já enfrentou uma gravidez e um aborto. A mãe é dona de casa e o pai, biscateiro. A família tem nove filhos. L freqüenta um colégio estadual mas não gosta de estudar. Também não tem idéia do que o futuro lhe reserva. Cobra entre R$15 e R$30 por programa, e chega a fazer seis por noite. Vai ao motel, à casa do cliente ou faz o que for necessário no carro, no meio da rua. Começou a ser sexualmente explorada acompanhado amigas da mesma idade, quando ainda era virgem e recebia para o cliente manipular seus seios ainda em formação.

¿ Eu via elas saírem, entrar no carro dos homens e voltarem vivas. Achei que comigo ia acontecer a mesma coisa. Na primeira vez não fui só. Fui eu, mais duas amigas e uma de 18 anos. Ela foi no banco da frente e a gente na mala porque é de menor. Não tive relações, o homem só pegou nos meus peitos. Mesmo assim, cobrei R$30. Ele disse que não dava. Armei um escândalo no motel para o povo ouvir. Sou de menor, e se a polícia chegasse ele poderia ser preso. Aí ele pagou com medo.

Afirma que ultimamente desceu o preço do programa de R$30 para R$15, porque ¿o movimento está ruim¿. L. tentou a Praia de Boa Viagem, mas foi roubada e maltratada pelas meninas mais experientes.

L. não é um caso isolado no Vasco da Gama, onde em uma só rua O GLOBO localizou oito meninas que trabalham na noite, duas delas com conhecimento dos pais. Em Boa Viagem, situações como a de L. se repetem. E não é só no turismo sexual. Nos sinais, meninas que ganham trocados limpando pára-brisas colecionam histórias de exploração sexual. Grávida, uma delas disse que nem assim deixa de receber cantadas.

¿ Os homens param e perguntam: quanto é o programa? Convite aqui não falta ¿ conta B., 15 anos.