Título: Telefonia móvel ainda cresce, mas mercado está perto da estagnação
Autor: Mirelle de França, Luciana Rodrigues, Leticia Lins
Fonte: O Globo, 19/03/2006, Economia, p. 40

Especialistas estimam que limite para o setor é de 110 milhões de assinantes

RIO e PASSIRA. A base de assinantes de telefonia celular, que viveu nos últimos anos uma expansão acelerada e constante, poderá ficar, em breve, estagnada. A previsão de especialistas é de que o freio virá quando o mercado chegar à marca de cerca de 110 milhões de linhas, 22 milhões a mais do que existe hoje. Levando-se em conta um crescimento médio mensal de um milhão de novos acessos, isso significa que a festa das operadoras pode terminar em pouco menos de dois anos.

¿ Acredito que a base de celulares atingirá o esgotamento entre 100 e 110 milhões de linhas ¿ disse Renato Guerreiro, sócio da Guerreiro Teleconsult, ex-Anatel.

O presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, também acredita que a inércia do mercado está próxima:

¿ Vejo um crescimento para até 108 milhões. A curva (de crescimento do número de assinantes) está agora no seu vôo de cruzeiro.

Comerciante tem prejuízo com falta de cobertura

Enquanto esse dia não chega, os consumidores vão aproveitando. O guarda municipal Antônio Augusto de Olinda Santos usa bem a ampla oferta de celulares do Rio, um dos estados mais bem atendidos e que tem cobertura de quatro operadoras e mais da Nextel. Santos usa três linhas diferentes: Vivo, TIM e Claro. Todas são pré-pagas. Como se desloca muito durante a semana ¿ além de guarda municipal, ele trabalha como segurança e professor de lutas ¿ Santos escolhe o celular que vai usar de acordo como o horário e a cidade de onde faz a chamada.

¿ Também vejo para quem vou ligar. Para a minha esposa, que tem um celular TIM, só uso o meu TIM. Na Vivo, o horário não importa. Mas na Claro e na TIM, o preço do minuto varia ao longo do dia. É um verdadeiro malabarismo: tenho três empregos, três celulares ¿ enumera o guarda, que já pensa em comprar também um Nextel.

Algumas operadoras ainda acreditam que é possível expandir mercado. O diretor de marketing da Claro, Roberto Guenzburger, explica que no ano passado a empresa passou a oferecer o serviço em 700 novos municípios:

¿ Estamos avaliando a entrada em mais cidades este ano. Achamos necessário que isso continue acontecendo.

A Vivo, que cobre 2.221 municípios, também vê possibilidade de expansão do número de clientes. Por causa disso, de acordo com o gerente de rede da empresa, Leonardo Capdeville, a operadora vai continuar investindo em cobertura.

Na cidade de Passira, em Pernambuco, a falta de celular atrapalha os negócios. O comerciante Marconi Souza Silva queixa-se das dificuldades com fornecedores e clientes. A cidade é vizinha ao município de Salgadinho, onde há uma estação de águas termais que envia turistas a Passira para comprar seus bordados.

¿ Vem gente de todo canto do país. Quando entram na loja querem usar seus celulares para perguntar aos parentes a cor que eles preferem de lençol, toalha, passadeiras. Acabo cedendo o meu fixo para as ligações interurbanas e a conta só faz subir ¿ diz Marconi.

*Enviada especial a Passira (PE)

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