Título: 'O lucro das drogas está no asfalto, não no morro'
Autor: Bernardo Mello Franco
Fonte: O Globo, 20/03/2006, Rio, p. 16

O mentor de "Falcão - Meninos do tráfico" é um defensor apaixonado do rap como instrumento de transformação social. Nascido em Olinda, veio para o Rio ainda criança, quando a mãe fugiu de casa. Morou na rua até os 12 anos e passou a adolescência na Favela do Sapo, em Senador Camará. Aos 43 anos, é coordenador da Central Única das Favelas (Cufa), que comanda projetos de cultura em comunidades pobres, e empresário do rapper MV Bill, com quem dividiu a direção do filme. (B.M.F.)

Você não teme que o documentário seja acusado de apologia do tráfico ou aumente o preconceito contra jovens favelados?

CELSO ATHAYDE: O filme dá voz a meninos que vivem em situação de risco e não existem para o Brasil oficial. Não tenho medo do público. Prefiro correr o risco de ser incompreendido a fazer um documentário com especialistas que falam sem conhecer a realidade das favelas.

Os falcões ficam ricos com o tráfico?

ATHAYDE: Isso é ficção. Mostramos um jovem que ganha R$350 para arriscar a vida 14 horas por dia. O dinheiro das drogas está no asfalto, não no morro.

Quais são as diferenças entre o crime no Rio e em outras regiões do país?

ATHAYDE: Só mudam as drogas e a quantidade de armamento. Conversamos com jovens que usam peixeiras em bocas-de-fumo do Nordeste. A tragédia está espalhada por todo o país.