Título: PT propõe investigar caseiro; PSDB, filho de Lula
Autor: Alan Gripp e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 21/03/2006, O País, p. 5

Quebra ilegal de sigilo de Francenildo Costa acirra o clima de guerra entre governistas e oposição no Senado

BRASÍLIA. A quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa, que contradisse o ministro Antonio Palocci, deixou ontem o Congresso em pé de guerra. No plenário do Senado, aos berros, oposição e governo trocaram acusações e juras de vingança. O dia terminou com uma batalha de requerimentos. O PT surpreendeu ao anunciar um pedido de quebra de sigilo bancário do caseiro, violado sem autorização judicial. O PSDB respondeu solicitando a quebra do sigilo do filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva Fábio Luis Lula da Silva, cuja empresa recebeu aporte de R$5 milhões da Telemar.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), anunciou que pedirá ao Ministério Público Federal que investigue a quebra de sigilo do caseiro. Seu extrato, publicado na revista ¿Época¿, foi retirado no momento em que Nildo, como é conhecido, estava no prédio da Polícia Federal para entrar no programa de proteção a testemunhas.

¿ Vida privada no Brasil não existe mais. O PT vasculha tudo! ¿ acusou o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MS), que vai apresentar na CPI dos Bingos requerimento de convocação do presidente da Caixa, Jorge Mattoso. ¿ Ele é o responsável imediato por essa violação.

Líder tucano faz ironia

Virgílio optou pelo tom irônico para atacar o governo?

¿ Tenho certeza de que a minha vida já deve ter sido vasculhada. Ditatoriais como eles são, me sentiria até ofendido se os meus sigilos não tiverem sido quebrados. Significaria que não sou um bom senador.

O petista Tião Viana (AC), que apresentou requerimento pedindo a quebra de sigilo de Nildo, insinuou no documento que o caseiro pode ter sido comprado pela oposição para acusar o ministro Antonio Palocci. ¿A Casa está em uma encruzilhada: o depoimento prestado (pelo caseiro) foi fidedigno ou contaminado por favorecimentos?¿, pergunta no requerimento.

¿ O coitado precisa agora que a verdade apareça, precisa mostrar que é um inocente ¿ disse, em tom de deboche.

¿ Isso é a mesma coisa que arrombar porta já aberta ¿ reagiu o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA).

Tião disse que a oposição também vazou dados do sigilo fiscal do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, que foi impedido de ser divulgado por uma liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O bate-boca esquentou quando Antero Paes de Barros anunciou que estava solicitando a quebra do sigilo do filho do presidente Lula.

¿ É uma afronta. Mexer nada menos do que com o filho do presidente. Como vamos considerar isso? ¿ reclamou a líder do PT, Ideli Salvatti.

Antero rebateu:

¿ Investigar um caseiro pobre, que não cometeu crime algum, pode. Mas investigar o presidente e seu filho não? A boa democracia é que garante que todos podem ser investigados.

A senadora lembrou que o PSDB barrara investigação sobre o filho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Arthur Virgílio entrar em ação, embora ele não tenha assinado o requerimento propondo a quebra de sigilo bancário do filho de Lula. Virgílio deu aval apenas para um novo pedido de quebra de sigilo de Paulo Okamotto.

¿ Se alguém não deixou investigar é porque alguém pediu. E quem pediu foi o PT. Tião Viana apresentou um requerimento legítimo e o caseiro ligou avisando que disponibilizaria seus sigilos. Quem não quer que seu sigilo seja quebrado é o Okamotto ¿ ressaltou Virgílio.

Ao justificar o pedido de quebra de sigilo do filho de Lula, Antero ressaltou que a Gamecorp, empresa de Fábio, foi beneficiada com R$15 milhões de concessionária de serviço público. A operação, segundo o requerimento, poderia caracterizar tráfico de influência.

Heráclito Fortes (PFL-PI) subiu à tribuna para negar ter dado ajuda financeira ao caseiro.

¿ Não ajudei, mas deveria porque ele é meu conterrâneo. Podem quebrar o sigilo até do meu pensamento ¿ reagiu.

STF nega recurso do Senado para manter depoimento

O Senado apresentou ontem recurso no STF pedindo a suspensão da liminar que interrompeu, na quinta-feira, o depoimento de Nildo à CPI dos Bingos. Àquela altura, o caseiro já havia contradito Antonio Palocci, dizendo que confirmava ¿até a morte¿ tê-lo visto na casa alugada por seus ex-assessores. À noite, o presidente do STF, Nelson Jobim, negou o pedido do Senado e manteve a decisão que suspendeu o depoimento de Nildo. O Senado argumentara que a Justiça interferiu na atuação do Legislativo. Mas Jobim considerou que não caberia recurso.

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