Título: Orientação de Lula é manter Palocci enquanto o governo não for atingido
Autor: Cristiane Jungblut e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 21/03/2006, O País, p. 9

Mas presidente já admite a demissão do ministro caso preço seja alto

BRASÍLIA. A preocupação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a situação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, aumentou muito desde domingo. A quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo, foi discutida ontem na reunião de coordenação política, quando o próprio Lula abordou o assunto diante de um constrangido e silencioso Palocci. Ao longo do dia, em avaliações reservadas, Lula foi pragmático: se o preço da permanência do ministro da Fazenda for muito caro para o governo será preciso descartá-lo. O limite é o comprometimento do governo.

Oficialmente, governo mantém blindagem

A situação de Palocci, que começou a ficar delicada na semana passada com as declarações de Nildo, que contradisse o ministro, piorou a partir da quebra ilegal do sigilo do caseiro, apesar de o próprio Lula ter dito que não se poderia culpar Palocci por isso. Oficial e publicamente, a blindagem de Palocci continuava ontem. Ministros e parlamentares petistas diziam que ele permanece e rechaçavam seu envolvimento com o episódio da quebra de sigilo.

¿ Meu sentimento é que ele fica ¿ disse o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner.

¿ O presidente já disse que ele fica ¿ repetiu o secretário da Pesca, José Fritsch.

¿ Temos que parar de brincadeira. Guerra é guerra ¿ disse o líder do PT, Henrique Fontana (RS).

Palocci precisa do foro privilegiado na Justiça

Apesar do discurso do presidente Lula de que Palocci fica no cargo, há dentro do governo quem diga que o ministro não tem mais condições de permanecer como está, cada dia mais desgastado, e que ele poderá aproveitar a reforma ministerial e sair no dia 31, como os demais ministros que vão concorrer às eleições.

O problema é que Lula não quer dar uma vitória à oposição. Além disso, há ainda o problema de que Palocci ficaria sem foro privilegiado na Justiça, à mercê principalmente do Ministério Público de São Paulo, que investiga suas atividades como prefeito de Ribeirão Preto (SP) e poderia pedir sua prisão a qualquer momento.